- Amby, qual era mesmo o nome que o antigo povo da montanha deu a Montanha do Dragão? – indaguei a ela, quando estávamos escondidos em um beco chinês.
- Monte Everest, Safí. Ele fica no sul da China, bem na fronteira com Nepal, abaixo dos Montes Kailas.
- Ah, é verdade. Obrigada.
- Por nada.
Segurei minha varinha com mais força, pois estava um pouco nervosa por saber que iria lutar com um dragão, e ainda teria que arrancar duas garras dele. Eu amo dragões, e lutar com um deles seria uma grande honra, mas não pude deixar de sentir um pouco de nervosismo.
Eu nos teletransportei para a Montanha do Dragão. Eu sabia que era a montanha mais alta do planeta, mas ao vivo parecia muito maior do que eu imaginava. Não era à toa, pois dragão que vivia dentro dela também era o maior do mundo.
Estava bem frio, mais ainda do que em Yakutsk, por isso com um estalo de dedos nos vesti com quentes casacos, luvas e botas. Chegamos bem perto, e eu toquei a montanha. Senti que irradiava poder, mas pude sentir outra fonte de energia, e ela não vinha do dragão, isso eu tinha certeza. E essa certeza me deixou confusa.
Jú se aproximou de mim e, distraidamente, começou a desenhar na parede com o dedo. Inclinei-me para ver o que ela desenhava, e percebi que formava uma espécie de símbolo.
Jú se aproximou de mim e, distraidamente, começou a desenhar na parede com o dedo. Inclinei-me para ver o que ela desenhava, e percebi que formava uma espécie de símbolo.
Eu reconheci o símbolo, era o símbolo dos arqueiros, seres antigos e de grande sabedoria. Não usavam muito da magia, mas tinham grandes habilidades, como a grande velocidade, o pensamento rápido, a leitura da mente...
Foi como se tudo tivesse se encaixado. Como pude ser tão burra?!
Jú tinha todas essas habilidades, além de não ser muito chegada à água, como eles. Eu havia esquecido completamente deles! Eram cheios de segredos, e ninguém que não fosse um arqueiro nunca descobriu onde era seu “quartel general”, e mesmo que soubesse, nunca sobreviveriam a seu sistema de segurança.
Nesse momento, o símbolo brilhou e dele saiu um raio que acertou Jú. A força do impacto a lançou para trás, e ela caiu sentada.
Abafamos um grito de exclamação, e nos ajoelhamos para ver se ela estava bem. Minha amiga havia sobrevivido e, por mais estranho que pareça, aquele raio pareceu ter-lhe deixado mais forte. Jú olhou para a parte debaixo de seu antebraço direito, e lá brilhava a mesma marca que ela desenhara na parede.
Troquei um olhar com Sam, e nosso pensamento era o mesmo: O que está acontecendo?
Agora eu sabia que Jú era uma arqueira, principalmente depois de ver que ela havia sobrevivido ao raio. Mas não sabia sobre a marca. Será que ela ficava invisível e só aparecia quando o raio era lançado?
Senti que éramos observados, e olhei em volta. Estávamos cercados por neve e pelo Monte Everest. Cuidadosa, peguei o braço de Jú e o analisei. A marca tinha um tom escuro, e era fácil confundi-la na pele morena de minha amiga.
Ela me olhou, e percebi que seus olhos eram agora mais inteligentes. Ela parecia diferente. Estava mais forte, eu sentia seu poder.
- Você está bem, Jú? – indaguei.
- Estou. Só um pouco confusa com as milhares de informações que acabei de receber, mas tudo bem – e ela sorriu, me fazendo sorrir também.
Então, ela se levantou.
- Sigam-me – e andou com leveza em direção ao símbolo.
Achei que ela fosse bater a parede, mas não bateu. Ela a atravessou.
Boquiabertos, nós a seguimos. Estendi a mão para ver se passava, mas apenas toquei a parede. Como ela queria que a seguíssemos?
De repente, a parede se levantou, e exibiu uma caverna escura e profunda.
Boquiabertos, nós a seguimos. Estendi a mão para ver se passava, mas apenas toquei a parede. Como ela queria que a seguíssemos?
De repente, a parede se levantou, e exibiu uma caverna escura e profunda.
Troquei um olhar com Sam e Max e entramos. Sem barulho, o Monte Everest se fechou atrás de nós, e ficamos na escuridão. Eu senti que Jú estava perto de nós, em algum lugar a nossa frente.
- Por aqui – a voz dela nos chamou.
Peguei minha varinha e murmurei um feitiço. Uma luz azul apareceu na ponta, e pude ver minha amiga logo na nossa frente.
- Jú, será que você poderia explicar o que está acontecendo? – pediu Sam.
Ela se virou para nós e me olhou. Percebi que ela também estava confusa, até mais que nós três.
- Estou seguindo algum instinto. Algo dentro de mim me disse que eu devia atravessar a parede, e que eu devia pedir para vocês me seguirem. Eu não entendo, mas sabia que vocês não conseguiriam, e que Safí colocaria a mão na parede para tentar passar. Eu conheço muito bem minha amiga, ela é do tipo protetora, e sempre prefere se arriscar para nos proteger. Ela iria mesmo tocar primeiro, para ver se era uma armadilha, e o Monte Everest sentiu seu poder. Não sei, mas você tem grande poder, Safí, e ele percebeu isso. É um poder puro, do bem, e poucos feiticeiros possuem tanta determinação para acabar com as trevas como você. Só ele pode abrir a passagem. Estamos no QG dos arqueiros, e eles pensam em tudo. Entenderam que vocês teriam que entrar aqui. Considerem isso uma grande honra – ela riu. – Eles não deixam ninguém entrar, a não ser arqueiros.
Admirada, notei que aquele raio havia aumentado a capacidade de raciocinar dela. Ela devia ser tão inteligente quando um adulto, apesar de ainda ter 13 anos.
- Ainda não sei tanta coisa, Safí. Preciso aprender muito ainda – ela me respondeu, lendo minha mente e dando um meio sorriso.
Dei a ela um sorriso amarelo, sem graça. Teria que voltar a treinar uma habilidade que eu aprendera com um mago forasteiro: o bloqueio da mente. Assim poderia pensar o que quisesse e ninguém saberia. Eu era muito boa nisso quando pequena, mas minha mãe brigava comigo, pois ela tinha o direito como mãe se saber o que eu pensava. Por isso parei de usá-lo e perdera a prática. Só conseguia usar de vez em quando. Ela nunca descobrira como eu aprendera aquilo, pois era a única coisa que eu conseguira esconder.
Naquele momento, eu comecei a praticá-lo, pois estávamos no QG dos arqueiros, e todos conseguiriam ler minha mente. Não percebi que minha varinha não estava mais na minha mão, mas no chão, e meu corpo estava cercado por um fogo azul. Meus amigos me chamavam, mas eu não ouvia. Olhavam em volta, como se estivessem me procurando, mas não me viam. Passavam os olhos por mim e não me notavam.
Eu não sabia o que estava acontecendo a minha volta. Eu sentia a presença de algo que tentava entrar em contato com minha mente.
Então comecei a entender. Ao tentar bloquear minha mente, eu bloqueara alguém que estava dentro da minha cabeça, me observando e me conhecendo. E esse alguém ficara confuso quando eu fiz com que ele parasse de ver meus pensamentos. Ele tentara voltar, mas eu não permitira. Por isso ele estava tentando falar comigo e me deixara sem noção do que estava acontecendo a minha volta. Esse alguém era o dragão.
Feiticeira, uma voz soou em minha cabeça.
Quem é você?
Eu sou o dragão que guarda esta montanha. Meu nome é Forthern.
Muito prazer, Forthern. Meu nome é Safíra.
Prazer, Safíra. Você está se perguntando por que eu estava dentro de sua mente. Assim que você tocou a montanha, eu senti seu poder. Eu sabia o porquê de você estar aqui, mas antes eu precisava saber quem era você. Se era digna de levar duas garras minhas. Muitos magos já vieram em busca delas ou de minhas escamas para poções. Mas ao entrar na mente deles e conhecê-los, vi que estavam tomados pela ganância e pelo egoísmo. Já enfrentei muitos, e venci todos, alguns com facilidade, outros com um pouco de trabalho. Morlogol, por exemplo.
Morlogol?! Você já o enfrentou?
Sim, e devo dizer que tive um pouco de trabalho em derrotá-lo. Nós dois pagamos um preço. Eu perdi uma de minhas orelhas, e ele perdeu metade de uma perna.
Caramba!
Eu sei, mas estou bem. Tenho várias feridas, marcas que mostram que já fui um grande guerreiro e, mesmo estando velho, ainda mato facilmente.
Eu não duvido disso. Mas Forthern, eu sou digna de ter duas de suas garras?
Conhecendo sua vida, não vejo porque não seria, mas temos que comprovar isso em uma luta. Eu contra você. Se não se mostrar digna, serei obrigado a comê-la, pois você já sabe demais sobre mim. Se você conseguir, pode levar duas de minhas garras. Aceita?
Aceito.
Ótimo. Volte para seus amigos. Nossa luta começara quando o sol se pôr.
Quando abri os olhos, percebi que estava sentada e que meus amigos me olhavam preocupados. Eu estava tonta e não sabia onde estava minha varinha.
- O...o que houve? – perguntei.
-Também queremos saber – respondeu Sam. – Ouvimos sua varinha cair no chão e a luz se apagou. Eu tenho visão noturna, e fiquei te procurando, e Max e Jú me ajudaram. Te chamamos e você não respondia, e também não estava em lugar nenhum! Nós ficamos muito preocupados, Safí. E de repente você aparece sentada no fundo da caverna! Pode, por favor, explicar o que aconteceu?!
Mesmo no escuro, pude ver que seu rosto estava vermelho e que arfava. Ele estivera realmente preocupado comigo, e corei.
- Querem saber o que houve? Não foi nada demais, eu só estava conversando com um dragão e aceitando o desafio de lutar com ele pelas garras. Minhas opções são: ganhar ou morrer.
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Gostaram? Demorei um pouco mais para escrever esse, e vocês viram que ele ficou bem grande. Semana que vem tem mais! Bjs, Carol 8D