O único som que eu ouvia era o tamborilar de meus dedos em minha mesa. Estava pensando no que eu iria dizer aos meus pais em relação ao que acontecera no recreio. Então uma voz me chamou.
- Safíra!
Pisquei, confusa.
- O que foi? Que houve? – perguntei e percebi que a aula já tinha acabado e não tinha mais ninguém na sala, a não ser eu, Jú e Sam, que notei que lançavam olhares preocupados para mim.
- Você fez aquilo de novo! – exclamou Jú.
- Aquilo? Aquilo o quê?
- Aquele negócio de ficar fora do ar – falou Sam. – Igual no recreio.
- Será que dá para você nos dizer por que faz isso? – indagou Jú.
Levei alguns segundos para entender que estavam falando sobre a meditação, depois sorri e expliquei o que é e como é comum isso acontecer entre os feiticeiros. Quando terminei, Sam perguntou:
- Mas se é tão comum, como nunca vimos você fazer isso antes?
- Porque isso se torna comum quando completamos 14 anos. Antes, eu até fazia, mas só de vez em quando, e tomava cuidado para não deixar vocês verem.
- Mas você tem 13 ainda – Jú falou -, não tem?
- Não – sorri – completei 14 ontem. Com essa idade é que começa a adolescência e, nessa fase, os poderes ficam mais fortes, e temos que aprender a controlá-los.
- Você fez 14 anos ontem?! Por que não nos contou? – perguntou Jú.
- Aliás, por que você nunca nos contou que dia era o seu aniversário – estranhou Sam.
- Se eu contasse, tenho certeza que vocês perceberiam, conhecendo vocês como eu conheço, que todo o ano eu falto na escola no dia do meu aniversário, 5 de outubro.
- Mas por que você falta nesse dia?
- Bem...é que sempre quando fazemos aniversário, até virarmos adultos, nossos poderes se fortalecem um pouco, e passamos o ano inteiro aprendendo a controlá-los. Por isso falto, porque passo o dia treinando. Mas nesse ano, ao completar 14 anos, entrei na adolescência e, com isso, meus poderes aumentaram três vezes mais, e mesmo passando ontem o dia inteiro tentando controlá-los, ainda não consegui, por isso aconteceu o que vocês viram hoje.
- Agora faz sentido! – disse Sam.
- Safí, eu estou curiosa – comentou Jú. – No que você estava pensando hoje no recreio que fez você meditar?
Eu não parava de me surpreender com a capacidade que Jú tinha de perceber todos os detalhes.
- Eu estava pensando em uma aula que o sr. Jackson tinha dado. Ele tinha comentado um pouco sobre a Revolução Francesa, para nos dizer sobre como essa revolução mudou a vida dos humanos. Depois começou a falar sobre a Revolução dos Bruxos.
- Nossa... – comentou Jú. – Mas, Safí, quem é sr. Jackson?
- É meu professor de História da Magia. Estudo também em uma escola de feiticeiros, a Magia High School.
Os dois assentiram e o silêncio se seguiu.
- Será que dá para gente sair de sala? – perguntou Sam, fingindo desespero. - Daqui a pouco vão perguntar se vamos participar do reforço de Geografia, e eu não sei quanto a vocês, mas não estou nem um pouco a fim de ouvir o mesmo papo chato de toda a aula.
°°°
Saímos da sala e ficamos esperando no portão de saída. Nem meu pai nem minha irmã haviam chegado ainda.
Safí, você vai ou não vai me apresentar aos seus amigos? , perguntou a voz de Max em minha cabeça.
- É claro que sim! Jú, Sam, quero que conheçam alguém.
Agachei-me e abri minha mochila.
- Pode sair, Max – chamei e meu cachorrinho saiu e começou a lamber meu rosto.
Meus amigos olharam para mim horrorizados.
- Você leva um cachorro dentro da mochila?! – exclamou Jú – Safí, que você é louca eu sempre soube, mas não sabia que chegava a esse nível!
- Concordo com você, Jú – disse Sam – Quem é esse carinha? – e começou a fazer cócegas em Max, que ficou pulando e lambendo ele.
Max podia ser um animal mágico, mas ainda assim era um cachorro.
- É meu amigo, Max. Diga oi para eles, Max.
- Safí, é óbvio que ele não vai simplesmente dizer...
- E aí, gente? Tudo bem? – falou Max.
Sam, que estava ajoelhando, caiu para trás e bateu a cabeça no portão e Jú olhou assustada para o cachorrinho.
- Ele é um cachorro mágico - falei.
- Ele fala! Legal! – exclamou Jú.
- Como é que ele aguenta ficar dentro da sua mochila? – perguntou Sam, esfregando a cabeça dolorida.
- Magia – eu disse, sorrindo, e Sam fez uma cara como quem diz ‘como foi que não pensei nisso?’.
Ri. Jú ainda não parecia acreditar que tinha acabado de conhecer um cachorro falante.
- Ele fala! – ela exclamou novamente.
- Vai, Jú, grita mais alto. Assim os japoneses também vão poder saber que a Safíra tem um cachorro falante! – disse Sam, irônico.
- Max é parte de família. – eu disse.
- Ele tem poderes? – perguntou Jú, que parecia finalmente ter se recuperado do susto.
- Tem, sim. Ele pode voar, corre superhipermegarápido e é poliglota.
- Uau! Max, você é demais! E você também, Safí!
Corei. Nessa hora, minha irmã chegou correndo.
- Oi, Safí! Oi, Max! Oi, Jú, Sam! – cumprimentou ela, sem fôlego.
- Oi! – nós dissemos em uníssono.
- Safí, você já sentiu vontade de matar alguém?
- Já, e mais vezes do que posso contar! Por quê?
- Hoje, fiquei com vontade de lançar vhor isshen na Nina. Ela é muito chata!
- O que foi que ela fez dessa vez? – perguntei.
- Roubou meu lanche e ainda disse que eu e a Jéssica éramos duas idiotas.
- Garota legal, hein? – falei, sarcástica – Mas você ficou sem lanche?
- Não, porque fiz aparecer outro e, para me vingar, lancei a azaração jecilagma nela. Você tinha que ver a cara que ela fez quando uma verruga gigante e peluda apareceu na ponta do nariz dela! – e começou a rir.
- Ruby! – repreendi minha irmã – Você sabe muito bem que não deve usar magia aqui.
- Mas ela bem que mereceu! E também...
Como se finalmente tivesse caído a ficha, ela colocou a mão na boca e me olhou feio.
- Demorou, hein? – comentou Max, rindo.
Percebi que meus amigos pareciam curiosos.
- Não se preocupe, maninha, eles já sabem de tudo – tranquilizei-a.
-Tudo?!
- Tudo!
- Você pirou, né? Como pode fazer isso?
- É que eu não aguentava mais esconder isso deles e...e fiz besteira.
- Grande novidade! – disse minha irmã, sarcástica. – O que você fez dessa vez?
- Como dessa vez? Não faço besteira.
Pelo menos não muita, pensei.
- Não, claro que não. E eu sou o Papai Noel! – ironizou Ruby.
Ergui a sobrancelha.
Ela deu os ombros.
- O que você fez? – perguntou ela.
- Conto depois.
Então vi o carro do meu pai.
- Vem, Ruby! Vem, Max! Papai chegou – e me virei para meus amigos – Tchau, gente! Até amanhã! – abracei os dois e fizemos nosso toque.
- Até, Safí! – se despediu Jú.
- Safí, o que você vai fazer em relação ao que aconteceu? – perguntou Sam.
- Não sei...vou pensar em alguma coisa.
Entrei no carro e, quando o carro saia, olhei para meus amigos lá fora. Eles conversavam, e pareciam preocupados. Por instinto, sabia que falavam sobre algo muito importante. Depois olhei novamente para frente.
Será que algum dia minha vida voltaria a ser a mesma de antes?
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Gostaram? Desculpem a demora, é que essa foi a semana das trimestrais e não deu tempo de postar, pois tive que ficar estudando ¬¬ Até semana que vem, gente. Bjs, Carol =)