terça-feira, 26 de abril de 2011

Capítulo 9 = A poção do esquecimento

Naquele momento, eu só tinha dois pensamentos: Que demais! e Minha avó é a pessoa mais esperta do mundo!. O sonho sumiu totalmente de minha mente quando vi a imensa biblioteca.
Ela queria que eu achasse a biblioteca, e por isso deu um jeito de fazer com que eu a encontrasse sozinha! Ela tinha dito para eu procurar no sótão, mas sabia que eu não encontraria a poção e, me conhecendo tão bem, sabia que eu ia ficar com raiva por causa disso e, consequentemente, bater minha varinha na parede, o que abriria a biblioteca.
Bem, ela não disse que eu acharia a poção no sótão, disse que eu acharia alguma coisa. Realmente eu achei.
Entrei na biblioteca e fiquei impressionada com a quantidade de livros que tinha lá. Havia todo o tipo de assunto: História da Feitiçaria, Como aprender a voar em 24 horas, A geografia dos elfos, Feitiçaria na Europa Medieval, Aprendendo com os duendes, 500 dicas sobre como dominar uma quimera, Calendário das ninfas, Como não virar um bruxo das trevas e muitos outros.
Era quase do mesmo tamanho da biblioteca da Magia High School!
Peguei um livro chamado Feitiços de A a Z e procurei a letra E.
Bingo.
Achei uma página que tinha o feitiço do esquecimento. Era assim:
Poção do esquecimento
INGREDIENTES:
1 coração de quimera
Pedaços de raízes de mandrágora
2 garras de dragão
8 vermes do rio
5 gotas de lágrima de fênix
2 gotas de sangue de dois humanos diferentes
Bafo de múmia
10 pêlos de nariz de duende
1 chifre de minotauro
Nível XV
Aquela era a poção mais difícil que eu já tinha visto! Os ingredientes eram muito difíceis de conseguir e, além do mais, era nível XV! Eu ainda estava no nível VIII.
Peguei minha varinha e apontei para a página.

- Secturon! - e apareceu em minha mão uma cópia da folha. Dobrei-a, guardei no bolso da calça e continuei explorando a biblioteca. Quando saí, já era noite.
Podia ser difícil, mas eu faria a poção. Nem que eu tivesse que enfrentar o mais forte feiticeiro de magia negra!
_____________________________________________________________________________________________________
E aí? O que acharam? Espero que tenham gostado! Até semana que vem! Bjs, Carol *-*

terça-feira, 19 de abril de 2011

Capítulo 8 = O sonho e a biblioteca secreta


- Como foi na escola, queridas? – meu pai perguntou.
Debrucei-me no banco e meu olhar encontrou o de Ruby. Nos conhecemos muito bem, tão bem que nós quase sempre sabíamos uma o que a outra estava pensando. Então fizemos uma coisa que fazemos sempre quando não queremos que ninguém ouça nossa conversa: conversamos pelo olhar.
Agora não, Ruby! Não fale para eles que meus amigos sabem sobre nós!
Por que não?
Quero conversar com eles com mais calma, e lá em casa!
Tá bom!
- Foi tudo bem! – respondemos juntas.
Percebi que meu pai tinha notado a nossa “conversa” e que sabia que estávamos escondendo alguma coisa, mas não falou nada.
O resto do caminho foi em silêncio. Cada um com seus pensamentos.
Quando chegamos em casa, minha mãe não tinha chegado ainda, por isso fui direto para meu quarto. Deixei minha mochila na cadeira da escrivaninha e me joguei na cama. Fechei os olhos e, sem perceber, comecei a meditar: repassei em minha mente o dia inteiro e fiquei pensando na enrascada em que eu tinha me metido. Alguns minutos depois, adormeci.
Sonhei que estava em um bosque, e notei que a minha frente estavam eu, Jú e Sam. Estávamos brigando.
Como puderam fazer isso? , eu gritava.
Você não pode falar nada! Escondeu que era uma feiticeira o tempo inteiro! , Sam retrucou.
E nem se preocupou em nos contar! , ajuntou Jú.
Mas depois eu contei! , eu disse.
Só porque viu que nós íamos descobrir! Amigos não escondem segredos, Safíra! , Jú gritou.
Como se você tivesse muita moral para dizer isso, Juliana! , retruquei, furiosa. Amigos não têm segredos, né? Mas vocês dois esconderam um de mim o tempo inteiro!
E você não? , Sam murmurou, e percebi que ele também estava muito bravo. E você não escondeu nada de nós, Safíra? Você nunca cumpriu o combinado que tínhamos feito sobre não ter segredos!
Nem vocês! Querem saber: já que não cumprimos o que amigos devem cumprir, é porque não somos mais amigos!
Fiquei esperando que eles não concordassem, mas me decepcionei. Vi que Jú secou as lágrimas e me lançou um olhar. Percebi um brilho que não reconheci e ela disse, com uma firmeza de qual eu nunca tinha ouvido:
Também acho!
Achei que meu coração fosse se despedaçar.
Olhei para Sam e vi que ele tinha os punhos cerrados, suas mãos envoltas por uma bola de fogo. Quando ele me olhou, percebi que ele também tinha um brilho diferente nos olhos.
Concordo!
Ele só disse isso, mas foi o suficiente para acabar comigo. Me sentei no chão. Sentia-me fraca. Mas o eu do meu sonho continuou firme e forte, apesar de também derrubar lágrimas.
Então tá! , eu disse.
Então, para acabar de vez comigo, vi nós três dizendo:
NÃO SOMOS MAIS AMIGOS!
E eu saí para um lado e os dois, para o outro. Percebi que todos nós estávamos bravos, mas que tínhamos água nos olhos. Nenhum de nós tinha gostado dessa decisão.
°°°
Acordei assustada.
Ao meu lado, minha avó me olhava, sentada na beira da cama, o olhar compreensivo. Ela, assim como minha mãe, conseguia ler a mente. Bloqueei minha mente para que ela não soubesse do meu sonho, eu ainda queria tentar entende-lo. Mas não precisei contar nada para ela sobre o que acontecera na escola, pois ela já sabia. Comecei a chorar e ela me abraçou.
- Te entendo, meu amor – ela me consolou. – Não foi de propósito, eu e você sabemos disso.
- Agora não importa mais de foi de propósito ou não, vó. O que está feito, está feito. Todos da escola sabem que eles têm uma feiticeira como colega de classe! – falei, minha voz abafada pelo choro. – O que eu posso fazer?
Minha avó me soltou e olhou para mim.
- Que tal uma poção do esquecimento?
- Já pensei nisso. Mas é uma poção difícil demais.
- E você vai se deixar convencer por causa disso? – perguntou ela, a sobrancelha erguida. – Quem é você e o que fez com a minha neta?
Percebi que ela tinha razão.
- Onde posso encontrar a receita de uma? São raras.
- Tente procurar no sótão. Você vai achar alguma coisa lá.
- Sério? Obrigada, vó! Vou começar a procurar! – e a abracei, feliz. – Como consegue sempre ter uma solução para tudo?
- Lembre-se, querida, problemas são soluções esperando para serem resolvidas.
- É...
Levantei-me na cama com um pulo.
- Muito obrigada, vó! Vou lá agora mesmo! – comecei a correr em direção à porta, mas lembrei de uma coisa e parei – Já estava esquecendo! Ainda tenho que contar o que aconteceu para o papai e a mamãe!
- Não se preocupe, querida. Deixe isso comigo!
- Eu te amo, vó!
- Eu também, Safíra!
Corri para o sótão. Cheguei lá e encontrei várias estantes de livros. Todos eram muito velhos.
Fui para um canto e me sentei, desolada. Minha alegria na frente da minha avó fora em grande parte apenas fingimento – muito bom por sinal.  Não gostava de mentir assim, mas fora necessário. Eu estava feliz porque agora tinha chance de consertar o meu erro, mas assustada com o que sonhara. O que fora aquele sonho que eu havia tido? Será que aquilo aconteceria? E que segredo era esse que meus amigos escondiam de mim? Torci com toda minha força para que aquela briga não se tornasse realidade.
 Depois disso, me levantei e comecei a procurar. Abri um e vi que era do século XV. Aquele lugar era um verdadeiro museu!
Comecei a procurar a receita da poção. Tirei vários livros. Nada. Procurei em várias estantes. Nada. Revirei o sótão inteiro. Nada.
Fiquei com raiva. Minha avó tinha dito que eu ia achar a receita se procurasse. Mas não estava em lugar nenhum! Então fiz uma coisa que sempre faço quando estou frustrada. Minha varinha estava em minha mão e a bati na parede. Por que fiz isso? Mania. Sempre quando estou com raiva bato minha varinha na parede mais próxima. Pura mania.
De repente, o lugar onde eu tinha batido começou a brilhar. A parede se abriu e eu entrei.
Vi que era uma biblioteca.
Uma biblioteca secreta.
_____________________________________________________________________________________________________
Gostaram? Espero que sim! Logo terá mais, então fiquem ligados! Até semana que vem! Bjs, Carol =3

sábado, 16 de abril de 2011

Capítulo 7 = Um desabafo sempre faz bem

O único som que eu ouvia era o tamborilar de meus dedos em minha mesa. Estava pensando no que eu iria dizer aos meus pais em relação ao que acontecera no recreio. Então uma voz me chamou.
- Safíra!
Pisquei, confusa.
- O que foi? Que houve? – perguntei e percebi que a aula já tinha acabado e não tinha mais ninguém na sala, a não ser eu, Jú e Sam, que notei que lançavam olhares preocupados para mim.
- Você fez aquilo de novo! – exclamou Jú.
- Aquilo? Aquilo o quê?
- Aquele negócio de ficar fora do ar – falou Sam. – Igual no recreio.
- Será que dá para você nos dizer por que faz isso? – indagou Jú.
Levei alguns segundos para entender que estavam falando sobre a meditação, depois sorri e expliquei o que é e como é comum isso acontecer entre os feiticeiros. Quando terminei, Sam perguntou:
- Mas se é tão comum, como nunca vimos você fazer isso antes?
- Porque isso se torna comum quando completamos 14 anos. Antes, eu até fazia, mas só de vez em quando, e tomava cuidado para não deixar vocês verem.
- Mas você tem 13 ainda – Jú falou -, não tem?
- Não – sorri – completei 14 ontem. Com essa idade é que começa a adolescência e, nessa fase, os poderes ficam mais fortes, e temos que aprender a controlá-los.
- Você fez 14 anos ontem?! Por que não nos contou? – perguntou Jú.
- Aliás, por que você nunca nos contou que dia era o seu aniversário – estranhou Sam.
- Se eu contasse, tenho certeza que vocês perceberiam, conhecendo vocês como eu conheço, que todo o ano eu falto na escola no dia do meu aniversário, 5 de outubro.
- Mas por que você falta nesse dia?
- Bem...é que sempre quando fazemos aniversário, até virarmos adultos, nossos poderes se fortalecem um pouco, e passamos o ano inteiro aprendendo a controlá-los. Por isso falto, porque passo o dia treinando. Mas nesse ano, ao completar 14 anos, entrei na adolescência e, com isso, meus poderes aumentaram três vezes mais, e mesmo passando ontem o dia inteiro tentando controlá-los, ainda não consegui, por isso aconteceu o que vocês viram hoje.
- Agora faz sentido! – disse Sam.
- Safí, eu estou curiosa – comentou Jú. – No que você estava pensando hoje no recreio que fez você meditar?
Eu não parava de me surpreender com a capacidade que Jú tinha de perceber todos os detalhes.
- Eu estava pensando em uma aula que o sr. Jackson tinha dado. Ele tinha comentado um pouco sobre a Revolução Francesa, para nos dizer sobre como essa revolução mudou a vida dos humanos. Depois começou a falar sobre a Revolução dos Bruxos.
- Nossa... – comentou Jú. – Mas, Safí, quem é sr. Jackson?
- É meu professor de História da Magia. Estudo também em uma escola de feiticeiros, a Magia High School.
Os dois assentiram e o silêncio se seguiu.
- Será que dá para gente sair de sala? – perguntou Sam, fingindo desespero. - Daqui a pouco vão perguntar se vamos participar do reforço de Geografia, e eu não sei quanto a vocês, mas não estou nem um pouco a fim de ouvir o mesmo papo chato de toda a aula.
°°°
Saímos da sala e ficamos esperando no portão de saída. Nem meu pai nem minha irmã haviam chegado ainda.
Safí, você vai ou não vai me apresentar aos seus amigos? , perguntou a voz de Max em minha cabeça.
- É claro que sim! Jú, Sam, quero que conheçam alguém.
Agachei-me e abri minha mochila.
- Pode sair, Max – chamei e meu cachorrinho saiu e começou a lamber meu rosto.
Meus amigos olharam para mim horrorizados.
- Você leva um cachorro dentro da mochila?! – exclamou Jú – Safí, que você é louca eu sempre soube, mas não sabia que chegava a esse nível!
- Concordo com você, Jú – disse Sam – Quem é esse carinha? – e começou a fazer cócegas em Max, que ficou pulando e lambendo ele.
Max podia ser um animal mágico, mas ainda assim era um cachorro.
- É meu amigo, Max. Diga oi para eles, Max.
- Safí, é óbvio que ele não vai simplesmente dizer...
- E aí, gente? Tudo bem? – falou Max.
Sam, que estava ajoelhando, caiu para trás e bateu a cabeça no portão e Jú olhou assustada para o cachorrinho.
- Ele é um cachorro mágico - falei.
- Ele fala! Legal! – exclamou Jú.
- Como é que ele aguenta ficar dentro da sua mochila? – perguntou Sam, esfregando a cabeça dolorida.
- Magia – eu disse, sorrindo, e Sam fez uma cara como quem diz ‘como foi que não pensei nisso?’.
Ri. Jú ainda não parecia acreditar que tinha acabado de conhecer um cachorro falante.
- Ele fala! – ela exclamou novamente.
- Vai, Jú, grita mais alto. Assim os japoneses também vão poder saber que a Safíra tem um cachorro falante! – disse Sam, irônico.
- Max é parte de família. – eu disse.
- Ele tem poderes? – perguntou Jú, que parecia finalmente ter se recuperado do susto.
- Tem, sim. Ele pode voar, corre superhipermegarápido e é poliglota.
- Uau! Max, você é demais! E você também, Safí!
Corei. Nessa hora, minha irmã chegou correndo.
- Oi, Safí! Oi, Max! Oi, Jú, Sam! – cumprimentou ela, sem fôlego.
- Oi! – nós dissemos em uníssono.
- Safí, você já sentiu vontade de matar alguém?
- Já, e mais vezes do que posso contar! Por quê?
- Hoje, fiquei com vontade de lançar vhor isshen na Nina. Ela é muito chata!
- O que foi que ela fez dessa vez? – perguntei.
- Roubou meu lanche e ainda disse que eu e a Jéssica éramos duas idiotas.
- Garota legal, hein? – falei, sarcástica – Mas você ficou sem lanche?
- Não, porque fiz aparecer outro e, para me vingar, lancei a azaração jecilagma nela. Você tinha que ver a cara que ela fez quando uma verruga gigante e peluda apareceu na ponta do nariz dela! – e começou a rir.
- Ruby! – repreendi minha irmã – Você sabe muito bem que não deve usar magia aqui.
- Mas ela bem que mereceu! E também...
Como se finalmente tivesse caído a ficha, ela colocou a mão na boca e me olhou feio.
- Demorou, hein? – comentou Max, rindo.
Percebi que meus amigos pareciam curiosos.
- Não se preocupe, maninha, eles já sabem de tudo – tranquilizei-a.
-Tudo?!
- Tudo!
- Você pirou, né? Como pode fazer isso?
- É que eu não aguentava mais esconder isso deles e...e fiz besteira.
- Grande novidade! – disse minha irmã, sarcástica. – O que você fez dessa vez?
- Como dessa vez? Não faço besteira.
Pelo menos não muita, pensei.
- Não, claro que não. E eu sou o Papai Noel! – ironizou Ruby.
Ergui a sobrancelha.
Ela deu os ombros.
- O que você fez? – perguntou ela.
- Conto depois.
Então vi o carro do meu pai.
- Vem, Ruby! Vem, Max! Papai chegou – e me virei para meus amigos – Tchau, gente! Até amanhã! – abracei os dois e fizemos nosso toque.
- Até, Safí! – se despediu Jú.
- Safí, o que você vai fazer em relação ao que aconteceu? – perguntou Sam.
- Não sei...vou pensar em alguma coisa.
Entrei no carro e, quando o carro saia, olhei para meus amigos lá fora. Eles conversavam, e pareciam preocupados. Por instinto, sabia que falavam sobre algo muito importante. Depois olhei novamente para frente.
Será que algum dia minha vida voltaria a ser a mesma de antes?

_____________________________________________________________________________________________________
Gostaram? Desculpem a demora, é que essa foi a semana das trimestrais e não deu tempo de postar, pois tive que ficar estudando ¬¬   Até semana que vem, gente. Bjs, Carol =)


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Capítulo 6 = Dando explicações


Entrei no banheiro, que novamente estava vazio – o que acontecia com os humanos? Os banheiros da Magia High School viviam cheios de gente -, me apoiei na pia e abaixei a cabeça, as lágrimas caindo sem parar.
Como eu pude deixar chegar àquele ponto? Como pude ignorar os avisos que Max me dava? Minha mãe havia me alertado, mas aconteceu o que sempre acontece com a maioria dos adolescentes: entrou por um ouvido e saiu pelo outro. É assim que acontece, pelo menos comigo.
Então, ouvi passos. A porta do banheiro se abriu e Jú entrou.
Eu queria olhá-la nos olhos e explicar tudo o que tinha acontecido e depois explicar para o Sam, que esperava do lado de fora do banheiro, mas não conseguia. Com que cara eu ia olhar para a minha amiga? Durante toda a minha vida, eu tinha escondido um grande segredo e ela agora tinha descoberto, e não havia sido da forma que eu esperava.
Jú murmurou:
- Safí, o que houve lá fora? Será que você pode me explicar? – a voz dela era suave.
Enxuguei as lágrimas e, olhando para as minhas mãos, falei:
- O que você viu lá fora fui eu. Minha verdadeira identidade.
- E o que você é? Uma bruxa?
- Uma feiticeira.
Criei coragem e ergui os olhos. Minha amiga me encarava e, por um segundo, pensei ter visto um brilho diferente em seus olhos, um brilho que parecia dizer que ela entendia perfeitamente o que eu sentia e pelo que eu estava passando, e isso me deixou confusa. Mas o brilho sumiu tão rápido quanto apareceu e Jú perguntou:
- Por que nunca nos contou? Nem para mim nem para o Sam?
- Por vários motivos, mas o principal é que pensei que vocês me achariam uma aberração e começariam a manter distância de mim, com medo de serem “contaminados”.
- Essa é a maior bobagem que eu já ouvi!
- Mas era o que eu pensava e não aguentaria se isso acontecesse – e desviei os olhos.
Senti a mão dela em meu ombro e, ao me virar, percebi que ela estava de novo com aquele olhar de compreensão. O que será que queria dizer? Ela não poderia entender o que eu sentia. Ela era humana, igual a todos naquela escola. Não era diferente... Por que será...
- É melhor sairmos para você poder explicar tudo ao Sam também, embora eu tenha certeza de que ele ouviu tudo o que nós dissemos.
Concordei e sorri. Nós duas sabíamos que se havia alguém que tinha uma audição incrível, esse alguém era Sam.
Quando percebeu que a porta do banheiro estava abrindo, Sam se afastou depressa.
- É muito feio fica ouvindo por trás das portas, Sam – brincou Jú.
Ele corou, mas disse:
- Quem cochicha, o rabo espicha.
- E quem escuta o rabo encurta – retrucou minha amiga.
Ela mostrou a língua para Sam e ele, com o pouco de dignidade que lhe sobrara, se virou para mim e perguntou:
- Safí, você está bem?
Assenti.
Ele trocou um olhar com Jú e ganhou o mesmo olhar dela. Muito tempo depois entendi que eles me compreendiam mais do que eu imaginava. Depois o olhar deles pareceu estar cheio de culpa, o que não entendi. Caramba! O que estava acontecendo?
- Safí – falou Jú. – Lembra-se de quando eu fingi ser ruim em História e Geografia só para vocês não pensarem que eu era CDF?
- Ou quando escondi de vocês que eu tenho asma porque pensei que seriam preconceituosas e parariam de falar comigo? – lembrou Sam.
- Lembro – respondi.
- O que foi que você nos disse?
- Eu disse que vocês não deveriam fingir ser o que não são. Que quando gostamos de um amigo, não é apenas pelas suas qualidades, mas também pelos seus defeitos, se bem que não podemos chamar inteligência de defeito – acrescentei, olhando para Jú.
- Exatamente, Safí. O que você fez foi bem parecido com o que nós fizemos.
- Jú tem razão – concordou Sam. -, só que, no seu caso, Safí, você não escondeu algum “defeito”, mas sim, o que você é. Você ocultou parte da sua identidade, apenas por achar que não te aceitaríamos como é. Isso é ridículo!
- Assim como você disse antes, Safí, não dá para dividir um amigo de verdade em partes e dizer: “Essa parte é legal, vou ficar com ela, mas esta é chata, pode ir embora!”. Você aceita tudo junto, como uma coisa única. – Jú ajuntou.
- É, eu sei...e me arrependo muito de não ter contado a verdade a vocês. Desculpem-me – eu disse.
- Não ligue pra isso! – alegrou-se Jú.
- Está perdoada! – concordou Sam.
Ficamos em silêncio por algum tempo, pensando no que havíamos conversado, até que Jú disse:
- Safí, posso fazer uma pergunta?
- Claro.
- Bem, é que Safíra é uma pedra azul, e essa é a cor das mechas do seu cabelo e dos seus olhos e, quando você transformou a Anna em um sapo, uma luz azul saiu de sua varinha, além de Safíra ser o seu nome. Você sabe que eu não acredito em coincidências, então...o que é?
- Você está certa. Não é uma coincidência. Isso acontece com toda a feiticeira. Ela sempre tem o nome da pedra que tem a cor das mechas de seu cabelo e de seu poder. Como exemplo, posso usar minha família. Minha irmã, Ruby, tem mechas na cor vermelha, assim como o brilho que sai de sua varinha. Com minha avó, Esmeralda, é a mesma coisa, mas no tom verde. E com minha mãe, Diamante...bem, se você prestar atenção, vai perceber que algumas mechas são mais claras e brilhantes, e seus poderes são como um facho de luz.
Eu estava satisfeita e muito feliz por estar conversando isso com meus amigos. Era bom não precisar mais mentir para eles.
- E seus olhos? Também são azuis – lembrou Sam.
- Meus olhos são pura coincidência, assim como os da minha avó.
Então lembrei.
- Ai, não! Tenho que desfazer o feitiço que lancei em Anna e nos outros antes que os professores vejam. Acho que eles achariam um pouco estranha aquela cena - e sai correndo, meus amigos atrás de mim.
Cheguei lá e vi que tudo estava exatamente do mesmo jeito. Peguei minha varinha, apontei para Anna e murmurei:
Transfunda retakulla!
Uma luz azul saiu da minha varinha e a envolveu. Quando cessou, Anna estava na forma humana de novo.  Ela olhou assustada para as próprias mãos e depois seu olhar voltou para mim, e vi que eles refletiam uma mistura de ódio e horror.
- Não sei como fez isso, mas vai se arrepender profundamente, Safíra! – e saiu andando.
Confusa, voltei meu olhar para os meus colegas, apontei a varinha e falei:
Gantare suzima! - e eles voltaram a se mexer.
Ao me verem, a maioria saiu correndo, e eu tinha certeza de que contariam para quem quisesse ouvir que eles tinham uma colega bruxa.
Olhei para meus amigos e eles retribuíram meu olhar.
- Não se preocupe, Safí, nós vamos dar um jeito.
Assenti.
Eu não descansaria até arranjar um jeito de consertar meu erro, e eu sabia que meus amigos estariam ao meu lado para o que eu precisasse.
______________________________________________________________________________________________________
E aí? Gostaram? Espero que sim. Na próxima semana tem mais! Bjs, Carol =3