- Como foi na escola, queridas? – meu pai perguntou.
Debrucei-me no banco e meu olhar encontrou o de Ruby. Nos conhecemos muito bem, tão bem que nós quase sempre sabíamos uma o que a outra estava pensando. Então fizemos uma coisa que fazemos sempre quando não queremos que ninguém ouça nossa conversa: conversamos pelo olhar.
Agora não, Ruby! Não fale para eles que meus amigos sabem sobre nós!
Por que não?
Quero conversar com eles com mais calma, e lá em casa!
Tá bom!
- Foi tudo bem! – respondemos juntas.
Percebi que meu pai tinha notado a nossa “conversa” e que sabia que estávamos escondendo alguma coisa, mas não falou nada.
O resto do caminho foi em silêncio. Cada um com seus pensamentos.
Quando chegamos em casa, minha mãe não tinha chegado ainda, por isso fui direto para meu quarto. Deixei minha mochila na cadeira da escrivaninha e me joguei na cama. Fechei os olhos e, sem perceber, comecei a meditar: repassei em minha mente o dia inteiro e fiquei pensando na enrascada em que eu tinha me metido. Alguns minutos depois, adormeci.
Sonhei que estava em um bosque, e notei que a minha frente estavam eu, Jú e Sam. Estávamos brigando.
Como puderam fazer isso? , eu gritava.
Você não pode falar nada! Escondeu que era uma feiticeira o tempo inteiro! , Sam retrucou.
E nem se preocupou em nos contar! , ajuntou Jú.
Mas depois eu contei! , eu disse.
Só porque viu que nós íamos descobrir! Amigos não escondem segredos, Safíra! , Jú gritou.
Como se você tivesse muita moral para dizer isso, Juliana! , retruquei, furiosa. Amigos não têm segredos, né? Mas vocês dois esconderam um de mim o tempo inteiro!
E você não? , Sam murmurou, e percebi que ele também estava muito bravo. E você não escondeu nada de nós, Safíra? Você nunca cumpriu o combinado que tínhamos feito sobre não ter segredos!
Nem vocês! Querem saber: já que não cumprimos o que amigos devem cumprir, é porque não somos mais amigos!
Fiquei esperando que eles não concordassem, mas me decepcionei. Vi que Jú secou as lágrimas e me lançou um olhar. Percebi um brilho que não reconheci e ela disse, com uma firmeza de qual eu nunca tinha ouvido:
Também acho!
Achei que meu coração fosse se despedaçar.
Olhei para Sam e vi que ele tinha os punhos cerrados, suas mãos envoltas por uma bola de fogo. Quando ele me olhou, percebi que ele também tinha um brilho diferente nos olhos.
Concordo!
Ele só disse isso, mas foi o suficiente para acabar comigo. Me sentei no chão. Sentia-me fraca. Mas o eu do meu sonho continuou firme e forte, apesar de também derrubar lágrimas.
Então tá! , eu disse.
Então, para acabar de vez comigo, vi nós três dizendo:
NÃO SOMOS MAIS AMIGOS!
E eu saí para um lado e os dois, para o outro. Percebi que todos nós estávamos bravos, mas que tínhamos água nos olhos. Nenhum de nós tinha gostado dessa decisão.
°°°
Acordei assustada.
Ao meu lado, minha avó me olhava, sentada na beira da cama, o olhar compreensivo. Ela, assim como minha mãe, conseguia ler a mente. Bloqueei minha mente para que ela não soubesse do meu sonho, eu ainda queria tentar entende-lo. Mas não precisei contar nada para ela sobre o que acontecera na escola, pois ela já sabia. Comecei a chorar e ela me abraçou.
- Te entendo, meu amor – ela me consolou. – Não foi de propósito, eu e você sabemos disso.
- Agora não importa mais de foi de propósito ou não, vó. O que está feito, está feito. Todos da escola sabem que eles têm uma feiticeira como colega de classe! – falei, minha voz abafada pelo choro. – O que eu posso fazer?
Minha avó me soltou e olhou para mim.
- Que tal uma poção do esquecimento?
- Já pensei nisso. Mas é uma poção difícil demais.
- E você vai se deixar convencer por causa disso? – perguntou ela, a sobrancelha erguida. – Quem é você e o que fez com a minha neta?
Percebi que ela tinha razão.
- Onde posso encontrar a receita de uma? São raras.
- Tente procurar no sótão. Você vai achar alguma coisa lá.
- Sério? Obrigada, vó! Vou começar a procurar! – e a abracei, feliz. – Como consegue sempre ter uma solução para tudo?
- Lembre-se, querida, problemas são soluções esperando para serem resolvidas.
- É...
Levantei-me na cama com um pulo.
- Muito obrigada, vó! Vou lá agora mesmo! – comecei a correr em direção à porta, mas lembrei de uma coisa e parei – Já estava esquecendo! Ainda tenho que contar o que aconteceu para o papai e a mamãe!
- Não se preocupe, querida. Deixe isso comigo!
- Eu te amo, vó!
- Eu também, Safíra!
Corri para o sótão. Cheguei lá e encontrei várias estantes de livros. Todos eram muito velhos.
Fui para um canto e me sentei, desolada. Minha alegria na frente da minha avó fora em grande parte apenas fingimento – muito bom por sinal. Não gostava de mentir assim, mas fora necessário. Eu estava feliz porque agora tinha chance de consertar o meu erro, mas assustada com o que sonhara. O que fora aquele sonho que eu havia tido? Será que aquilo aconteceria? E que segredo era esse que meus amigos escondiam de mim? Torci com toda minha força para que aquela briga não se tornasse realidade.
Depois disso, me levantei e comecei a procurar. Abri um e vi que era do século XV. Aquele lugar era um verdadeiro museu!
Comecei a procurar a receita da poção. Tirei vários livros. Nada. Procurei em várias estantes. Nada. Revirei o sótão inteiro. Nada.
Fiquei com raiva. Minha avó tinha dito que eu ia achar a receita se procurasse. Mas não estava em lugar nenhum! Então fiz uma coisa que sempre faço quando estou frustrada. Minha varinha estava em minha mão e a bati na parede. Por que fiz isso? Mania. Sempre quando estou com raiva bato minha varinha na parede mais próxima. Pura mania.
De repente, o lugar onde eu tinha batido começou a brilhar. A parede se abriu e eu entrei.
Vi que era uma biblioteca.
Uma biblioteca secreta.
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Gostaram? Espero que sim! Logo terá mais, então fiquem ligados! Até semana que vem! Bjs, Carol =3
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