segunda-feira, 4 de abril de 2011

Capítulo 6 = Dando explicações


Entrei no banheiro, que novamente estava vazio – o que acontecia com os humanos? Os banheiros da Magia High School viviam cheios de gente -, me apoiei na pia e abaixei a cabeça, as lágrimas caindo sem parar.
Como eu pude deixar chegar àquele ponto? Como pude ignorar os avisos que Max me dava? Minha mãe havia me alertado, mas aconteceu o que sempre acontece com a maioria dos adolescentes: entrou por um ouvido e saiu pelo outro. É assim que acontece, pelo menos comigo.
Então, ouvi passos. A porta do banheiro se abriu e Jú entrou.
Eu queria olhá-la nos olhos e explicar tudo o que tinha acontecido e depois explicar para o Sam, que esperava do lado de fora do banheiro, mas não conseguia. Com que cara eu ia olhar para a minha amiga? Durante toda a minha vida, eu tinha escondido um grande segredo e ela agora tinha descoberto, e não havia sido da forma que eu esperava.
Jú murmurou:
- Safí, o que houve lá fora? Será que você pode me explicar? – a voz dela era suave.
Enxuguei as lágrimas e, olhando para as minhas mãos, falei:
- O que você viu lá fora fui eu. Minha verdadeira identidade.
- E o que você é? Uma bruxa?
- Uma feiticeira.
Criei coragem e ergui os olhos. Minha amiga me encarava e, por um segundo, pensei ter visto um brilho diferente em seus olhos, um brilho que parecia dizer que ela entendia perfeitamente o que eu sentia e pelo que eu estava passando, e isso me deixou confusa. Mas o brilho sumiu tão rápido quanto apareceu e Jú perguntou:
- Por que nunca nos contou? Nem para mim nem para o Sam?
- Por vários motivos, mas o principal é que pensei que vocês me achariam uma aberração e começariam a manter distância de mim, com medo de serem “contaminados”.
- Essa é a maior bobagem que eu já ouvi!
- Mas era o que eu pensava e não aguentaria se isso acontecesse – e desviei os olhos.
Senti a mão dela em meu ombro e, ao me virar, percebi que ela estava de novo com aquele olhar de compreensão. O que será que queria dizer? Ela não poderia entender o que eu sentia. Ela era humana, igual a todos naquela escola. Não era diferente... Por que será...
- É melhor sairmos para você poder explicar tudo ao Sam também, embora eu tenha certeza de que ele ouviu tudo o que nós dissemos.
Concordei e sorri. Nós duas sabíamos que se havia alguém que tinha uma audição incrível, esse alguém era Sam.
Quando percebeu que a porta do banheiro estava abrindo, Sam se afastou depressa.
- É muito feio fica ouvindo por trás das portas, Sam – brincou Jú.
Ele corou, mas disse:
- Quem cochicha, o rabo espicha.
- E quem escuta o rabo encurta – retrucou minha amiga.
Ela mostrou a língua para Sam e ele, com o pouco de dignidade que lhe sobrara, se virou para mim e perguntou:
- Safí, você está bem?
Assenti.
Ele trocou um olhar com Jú e ganhou o mesmo olhar dela. Muito tempo depois entendi que eles me compreendiam mais do que eu imaginava. Depois o olhar deles pareceu estar cheio de culpa, o que não entendi. Caramba! O que estava acontecendo?
- Safí – falou Jú. – Lembra-se de quando eu fingi ser ruim em História e Geografia só para vocês não pensarem que eu era CDF?
- Ou quando escondi de vocês que eu tenho asma porque pensei que seriam preconceituosas e parariam de falar comigo? – lembrou Sam.
- Lembro – respondi.
- O que foi que você nos disse?
- Eu disse que vocês não deveriam fingir ser o que não são. Que quando gostamos de um amigo, não é apenas pelas suas qualidades, mas também pelos seus defeitos, se bem que não podemos chamar inteligência de defeito – acrescentei, olhando para Jú.
- Exatamente, Safí. O que você fez foi bem parecido com o que nós fizemos.
- Jú tem razão – concordou Sam. -, só que, no seu caso, Safí, você não escondeu algum “defeito”, mas sim, o que você é. Você ocultou parte da sua identidade, apenas por achar que não te aceitaríamos como é. Isso é ridículo!
- Assim como você disse antes, Safí, não dá para dividir um amigo de verdade em partes e dizer: “Essa parte é legal, vou ficar com ela, mas esta é chata, pode ir embora!”. Você aceita tudo junto, como uma coisa única. – Jú ajuntou.
- É, eu sei...e me arrependo muito de não ter contado a verdade a vocês. Desculpem-me – eu disse.
- Não ligue pra isso! – alegrou-se Jú.
- Está perdoada! – concordou Sam.
Ficamos em silêncio por algum tempo, pensando no que havíamos conversado, até que Jú disse:
- Safí, posso fazer uma pergunta?
- Claro.
- Bem, é que Safíra é uma pedra azul, e essa é a cor das mechas do seu cabelo e dos seus olhos e, quando você transformou a Anna em um sapo, uma luz azul saiu de sua varinha, além de Safíra ser o seu nome. Você sabe que eu não acredito em coincidências, então...o que é?
- Você está certa. Não é uma coincidência. Isso acontece com toda a feiticeira. Ela sempre tem o nome da pedra que tem a cor das mechas de seu cabelo e de seu poder. Como exemplo, posso usar minha família. Minha irmã, Ruby, tem mechas na cor vermelha, assim como o brilho que sai de sua varinha. Com minha avó, Esmeralda, é a mesma coisa, mas no tom verde. E com minha mãe, Diamante...bem, se você prestar atenção, vai perceber que algumas mechas são mais claras e brilhantes, e seus poderes são como um facho de luz.
Eu estava satisfeita e muito feliz por estar conversando isso com meus amigos. Era bom não precisar mais mentir para eles.
- E seus olhos? Também são azuis – lembrou Sam.
- Meus olhos são pura coincidência, assim como os da minha avó.
Então lembrei.
- Ai, não! Tenho que desfazer o feitiço que lancei em Anna e nos outros antes que os professores vejam. Acho que eles achariam um pouco estranha aquela cena - e sai correndo, meus amigos atrás de mim.
Cheguei lá e vi que tudo estava exatamente do mesmo jeito. Peguei minha varinha, apontei para Anna e murmurei:
Transfunda retakulla!
Uma luz azul saiu da minha varinha e a envolveu. Quando cessou, Anna estava na forma humana de novo.  Ela olhou assustada para as próprias mãos e depois seu olhar voltou para mim, e vi que eles refletiam uma mistura de ódio e horror.
- Não sei como fez isso, mas vai se arrepender profundamente, Safíra! – e saiu andando.
Confusa, voltei meu olhar para os meus colegas, apontei a varinha e falei:
Gantare suzima! - e eles voltaram a se mexer.
Ao me verem, a maioria saiu correndo, e eu tinha certeza de que contariam para quem quisesse ouvir que eles tinham uma colega bruxa.
Olhei para meus amigos e eles retribuíram meu olhar.
- Não se preocupe, Safí, nós vamos dar um jeito.
Assenti.
Eu não descansaria até arranjar um jeito de consertar meu erro, e eu sabia que meus amigos estariam ao meu lado para o que eu precisasse.
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E aí? Gostaram? Espero que sim. Na próxima semana tem mais! Bjs, Carol =3

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