O ogro era grande, gordo e marrom. Presumi que devia ser um agro da montanha. Mas o que fazia no deserto?
- Quem vem lá? – bradou ele.
Entreolhamo-nos e falei:
- Quem quer saber?
- Sou Harder, o ogro da ponte. Se quiserem atravessá-la, terão que resolver minhas charadas. Se acertarem, podem passar. Mas se errarem, morrem.
Novamente troquei um olhar com meus amigos e Jú disse:
- Manda a ver!
O ogro olhou para todos nós, e seu olhar parou em Sam.
- Primeiro você, garoto.
Sam deu um passo à frente. Percebi que seus olhos refletiam desafio. O pouco de treinamento que tivera na montanha com Max estava fazendo efeito. O olhar dele surpreendeu o ogro, mas este se recompôs e começou a falar:
Um cavalo preto,
Após saltar sobre uma alta torre,
Foi cair em cima de um homenzinho
E, nesse momento, o homem desapareceu.
Como foi possível?
Olhei para Sam. Estava profundamente concentrado. Eu quase podia ver as engrenagens rodando dentro de sua cabeça. Então, vi que a compreensão iluminou seu rosto e ele respondeu:
- Na verdade, isso foi possível porque era um jogo de xadrez. E o que aconteceu foi que o cavalo preto saltou uma torre e comeu um peão.
Harder não pareceu muito contente, mas abriu espaço para Sam atravessar a ponte.
Meu amigo olhou para nós e gesticulei com a boca “Vai!”. Ele assentiu e continuou. Quando chegou do outro lado, o ogro olhou para Max.
- Agora você, cachorro.
Max o olhou nos olhos e esperou.
O ogro perguntou:
- David e Chris conversavam quando um rapaz passou na frente deles e acenou para Chris. David, curioso, perguntou quem era. Então ouviu a resposta: “Eu não tenho irmãs ou irmãos, mas o pai daquele rapaz é o filho do meu pai”. Quem era o rapaz que acenara para Chris?
Admito que aquela charada dera um nó completo em minha cabeça, mas Max pareceu entender.
- O rapaz – ele respondeu, tranquilo - era o filho de Chris.
- Acertou. Pode passar - e Max atravessou a ponte.
Logo depois, os olhos de Harder se voltaram para mim.
- Agora é a sua vez, garota.
Seus olhos faiscavam.
- Dois camelos estavam no deserto, virados em direções opostas. Um estava voltado para o leste e o outro diretamente para oeste. Como podem olhar um para o outro sem andar, virar-se ou sequer mexer as cabeças?
Pensei por um instante. Como seria possível? Não tinha como se olharem de costas, cada um virado para uma direção. A não ser que...
De repente, tudo se encaixou, e eu soube a resposta.
- Os dois camelos não precisavam se mexer, pois já estavam, o tempo todo, um de frente para o outro, e assim voltados em direções opostas.
Ele me mostrou os dentes, frustrado, mas me deixou passar.
- Agora você – ele falou para Jú
Olhei para ela, e vi que olhava para o ogro. Atravessei a ponte e fiquei ao lado de Sam e Max.
Harder perguntou:
- Em um lugar há 5 pessoas e uma cesta com 5 maçãs dentro dela. Cada uma dessas pessoas ganha uma maçã da cesta, mas ainda assim sobra uma maçã dentro da cesta. Como isso é possível?
Olhei para minha amiga, nervosa, e ela, sentindo meu olhar, ergueu a cabeça me lançou um sorriso tranquilizador. Depois voltou seus olhos para o ogro, e respondeu:
- Para a última pessoa foi entregue a cesta com a maçã dentro.
O ogro a olhou, olhos fervendo de raiva, e trovejou:
- Você trapaceou! Olhou para sua amiga e ela lhe deu a resposta! Trapaceira!
Jú olhou para ele, incrédula.
- O quê?! Claro que não! Eu já sabia a resposta.
- Você errou, portanto, deve morrer! – gritou Harder, triunfante.
Fiquei brava, muito brava, e meus olhos começaram a ficar escuros, até quase atingirem um tom preto.
Comecei a andar em direção a ponte. Ouvi Sam gritando para eu parar, mas eu o ignorei. Minha amiga precisava de ajuda.
Quando eu ia colocar o pé na ponte, senti uma mão agarrando meu braço e me puxando para trás. Eu me virei e vi que Sam me segurava, seu olhar determinado.
Sua mão apertava meu braço com força, uma força fora do normal, e tentei me desvencilhar, mas não consegui. Sua força de quimera era muito forte.
- Sam, me solta! – mandei, irritada.
- Não até que desista de atravessar a ponte.
- Por quê?! Tenho que salvar a Jú!
- Mas se você colocar um pé na ponte, vai ser eletrocutada e virar pó!
Apenas para me mostrar, Sam desenterrou uma pedra com a outra mão e a lançou com força em direção à ponte. Foi como se houvesse um campo de força invisível, pois saíram faíscas da pedra e ela se desintegrou.
Assustada e horrorizada ao pensar que eu teria tido o mesmo destino da pedra se Sam não tivesse me impedido, eu me afastei da ponte, e ele soltou meu braço.
Eu o olhei agradecida, e ele sorriu. Pelo canto do olho, vi que Max meditava, e voltei os olhos para Jú e o ogro, do outro lado da ponte.
Eu não queria perder minha melhor amiga, mas o que eu podia fazer?
Era um sofrimento saber que ela ia morrer e que eu não podia fazer nada, apenas observar.
- Isso não é justo! – gritou Jú.
O ogro parou e a raiva iluminou seu olhar.
- Meu sofrimento não foi conquistado justamente – ele disparou. – Morlogol tomou minha liberdade por pura maldade, e agora tenho que guardar esta ponte até que a última pessoa atravesse-a.
Nesse momento vi um raio de compreensão iluminar os olhos de Jú, e ela olhou para o ogro com audácia.
- Então você deve guardar essa ponte até que a última pessoa atravesse-a? – vi um meio sorriso se formar no rosto dela. – E que como eu supostamente “errei” a charada, não posso atravessar essa ponte?
Notei a ênfase de ela deu nas duas vezes que usou a palavra essa, e entendi o que ela estava pensando. Enfiei a mão no bolso e peguei minha varinha.
- Você deve guardar e eu não posso atravessar essa ponte, não é? – e quando o ogro assentiu, ela olhou para mim, e entendi que era o momento.
Estendi a varinha em direção à ponte e gritei:
- Hoolish fynn! – e um raio azul saiu da ponta da varinha.
Mas ele não atingiu a ponte, por causa do campo de força. Cerrei os punhos, tentando destruí-lo, mas era inútil. Tentei usar mais energia, mas o campo de força permanecia intacto. Eu estava quase caindo esgotada quando senti uma mão segurar a minha estendida. Virei-me e vi que era Sam.
- Use a minha energia. Pode ajudar – e deu os ombros, mas o olhar determinado.
Senti Max também se aproximar de mim e encostar-se em minha perna, e ouvi sua voz em minha mente: A minha também pode ser útil.
Assenti e senti uma onda de força me percorrer. Concentrei todo o meu poder no campo, e uma explosão lançou todos nós ao chão. Esfreguei os olhos para tirar a poeira e tateei até encontrar minha varinha. Sentei-me e olhei em volta. Sam olhava ao redor confuso, assim como Max. Voltei o olhar para onde deveria estar a ponte, e vi que não havia mais nenhuma ponte. Jú e Harder olhavam para nós, ela feliz e ele desorientado.
Então aconteceu uma coisa: foi como se correntes invisíveis tivessem desaparecido, pois a pele do ogro assumiu um tom escuro de verde e ele estremeceu.
Depois disso, todos nos levantamos, esperando o que aconteceria em seguida.
- Safí, acho que você já sabe o que fazer – disse Jú, me olhando com um meio sorriso.
Eu o retribuí e apontei minha varinha para o rio.
- Cratk idetr! – e uma ponte se formou no lugar da outra.
Nesse momento, Sam e Max entenderam nosso plano, e assentiram, mas Harder ainda continuava confuso, e Jú resolveu explicar a ele o que havíamos feito.
- Você não disse que teria que guardar essa ponte até que a última pessoa a atravessasse? A última pessoa que o atravessou foi a Safíra, pois agora que aquela ponte foi destruída, ninguém mais poderá atravessa-la, Portanto, você não precisa mais guarda-la. Entendeu?
- Então por que sua amiga fez outra ponte? – Harder indagou.
- Para que qualquer um possa atravessar o Nilo – respondi.
O ogro assentiu.
- Muito obrigado pela ajuda. Vocês quebraram o feitiço que Morlogol lançou. Estou em dívida com vocês. Se precisarem de ajuda, podem chamar – e estendeu a mão.
Jú sorriu e apertou a mão do ogro.
- Adeus! – ele nos disse e desapareceu.
Então, minha amiga atravessou a ponte e veio caminhando em nossa direção, a expressão de dever cumprido.
- Ele só cumprimenta você! Fiquei magoada – brinquei, fingindo estar ofendida.
Jú sorriu e me abraçou, e eu retribui.
- Obrigada pela ajuda, Safí – ela disse.
- Não me agradeça, pois eu não teria conseguido destruir o campo de força sem a ajuda do Sam e do Max – e sorri para os dois, que coraram.
Ela se virou para eles e os agradeceu também, fazendo corarem ainda mais, o que nos fez rir.
- Você pensou rápido, Jú – elogiou Sam. – De onde tirou aquela ideia?
- Não sei – minha amiga respondeu. – Simplesmente veio na minha cabeça. De algum modo eu soube sobre o feitiço de Morlogol e bolei esse plano.
Eu nós a olhávamos, surpresos.
- Você descobriu o feitiço só de olhar para o ogro? – indaguei.
Ela assentiu.
Isso me fez lembrar que havia um tipo de ser no mundo mágico que tinha esse poder. Mas na hora não me veio à cabeça quem eram.
- Mas que bom que você entendeu rápido o que eu queria fazer, pois ficou bem mais fácil – ela ajuntou.
Foi minha vez de corar, e senti uma mão segurar a minha delicadamente. Senti que era a de Sam e voltei meu olhar para ele, minhas bochechas queimando. Vi que ele sorria, e eu retribuí. Confesso que eu não soube dizer quem estava mais vermelho, ou quem sorria mais. Senti meu coração disparar.
Pelo canto do olho, percebi que Jú olhava de um rosto para outro, desconfiada.
De repente, ouvi Max abafar uma exclamação e seguimos seu olhar. Com toda a confusão, nem havíamos notado o que se estendia sobre nossas costas. A tumba de Nefertari.
- Vamos, gente – chamou Jú, que de repente notei que corria em direção à tumba, e já estava bem na nossa frente (ela era a que corria mais rápido entre nós).
Eu ri e saí correndo atrás dela, e Sam me seguiu, Max logo atrás. Juntos, nós quatro saímos correndo felizes em direção à tumba, sem saber o que nos aguardaria lá dentro.
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E aí, pessoas? Gostaram? Viram que eu mudei o design? O que acharam? Nenhum comentário...tudo bem. Semana que vem tem mais. Bjs, Carol =I
adorei esse capítulo!!!!!
ResponderExcluira ideia das charadas foi sua? muito boas!!!
valeu!
ResponderExcluireu me inspirei em vários livros que li
^^
Realmente está ótimo :3
ResponderExcluirMe lembro quando li no seu caderno, hihi ^^'
Vlw, lalah
ResponderExcluirEh verdade, tenho os comentários escritos, e quando estou digitando e vejo as coias q escreveram... da uma sensação boa =D
vlw mesmo!
*-*
^^