Contei aos amigos sobre minha conversa com Forthern, e sobre o desafio que ele havia me proposto.
- E você aceitou?! – perguntou Jú, perplexa.
- Aham. Eu não tinha escolha! – me defendi.
- Tinha sim! – retrucou Sam. – Você podia muito bem não aceitar. Desse jeito, poderíamos te ajudar a derrotar o dragão e arrancar duas de suas garras.
- Mas agora que você aceitou o desafio, vai ter que se virar sozinha! – ajuntou Max.
- Vocês acham que eu não consigo?! – respondi, irritada. – Há pouco tempo atrás, vocês dois nem sabiam que tinham poderes! Max, você viu o tanto que vovó vem me treinando, e como sempre passo nos testes da Magia High School! Eu sou capaz de derrotar um dragão sozinha!
- Será? – indagou Jú, sombriamente.
- Safí, você não consegue lidar direito com seus poderes ainda – Max me alertou. – Ainda está aprendendo a controlá-los.
- E você não vai conseguir transformar Forthern em um sapo – completou Sam, irônico.
Brava e irritada, cerrei minhas mãos em punho. Eu lhes mostraria que era melhor do que pensavam. Eles veriam quem é que não conseguia se virar sozinha.
Disparei na frente, me controlando para não fazer nenhuma besteira. Forthern me dissera que nos veríamos ao pôr do sol e, por instinto, eu sabia que faltava apenas uma hora para o sol se pôr.
Eu não sabia para onde estava indo, mas não parei, nem mesmo quando ouvi as vozes de meus amigos me chamando. Senti meus amigos se aproximarem rapidamente, e Jú apareceu em minha frente, depois Max e logo em seguida, Sam. Não era justo que todos eles tivessem supervelocidade e eu não.
Surpresa, percebi que Jú não tentou ler minha mente, apenas me olhava, preocupada.
- Safí, não fique brava - ela pediu, a voz suave. – Desculpe, é que nós só estávamos dizendo o que pensamos. Nenhum de nós gostou da ideia de você ter que lutar sozinha contra um dragão, principalmente o maior do mundo. Não vai ser nada fácil ver você arriscando sua vida e não poder fazer nada, apenas olhar.
- Jú, Sam, Max, eu que cometi o erro de transformar Anna em sapo e, consequentemente, revelar a existência de feiticeiros. Eu deveria estar fazendo essa busca inteira sozinha, como castigo por não me controlar. Vocês já fizeram muito por mim, e eu agradeço de verdade. Mas agora é minha vez. Minha vez de pôr em pratica tudo o que eu venho aprendendo há 13 anos.
- Safí...
Eu dei um sorriso fraco, mas que pareceu tranquilizá-los.
Nisso, fechei os olhos e senti. O sol estava se pondo. Olhei para meus amigos. Estava na hora de encontrar o dragão.
°°°
Safíra, a voz de Forthern ecoou em minha mente.
Forthern, onde você está?
No centro da montanha. Toque as paredes, sinta meu poder e poderá me encontrar.
Pisquei, desorientada, quando ele saiu da minha cabeça.
- E aí? Onde ele está? – indagou Max.
Respondi e fiz o que o dragão me pediu. Toquei uma das paredes e pude sentir o imenso poder do dragão. No momento em que seu poder entrou em contato com o meu, eu soube para onde ir.
- Vamos. Já sei onde está.
Era um labirinto de túneis, e qualquer um se perderia facilmente ali. Mas eu sabia exatamente aonde ir.
Andamos até chegar a uma caverna maior, onde eu não conseguia ver o teto. Entramos e nos deparamos com o maior dragão que eu já vira. Ele tinha um tom vermelho escuro, com olhos tom de fogo e garras gigantes. Seu olhar pousou sobre nós e pude notar que ele não era tão grande quanto o Monte Everest, mas tinha o tamanho de um prédio de 15 andares.
Você veio, ouvi sua voz em minha mente.
Sim.
Pronta para a luta? Ainda pode desistir.
Olhei para meus amigos. Eles pareciam ouvir nossa conversa e eu sabia que eles queriam que eu desistisse para poderem lutar lado a lado comigo. Balancei a cabeça, determinada, e olhei para o dragão.
Não vou desistir.
Tirei minhas luvas e meus casacos, e com um estalo de dedos, voltei a ficar com a roupa que eu estava quando saímos de Manhattan: calça jeans e camiseta. Não estava frio, pois o fogo do dragão esquentava a caverna.
Peguei minha varinha e me preparei.
Pronta?, Forthern me perguntou.
Pronta.
°°°
Foi tudo muito rápido.
Em um segundo, eu lancei um raio em Forthern enquanto ele me atacava com fogo. Esquivei-me dando uma mortal para trás, e notei que ele nem pareceu sentir meu raio.
Droga. Teria que pensar em outra coisa.
Por algum tempo, fiquei apenas desviando de seus ataques. Ele era ágil, mais do que seria o normal para um dragão velho como ele, só que eu era mais rápida. Você pode comparar nossa luta se pensar que eu era a mosca irritante e Forthern, o humano que tentava me acertar.
Pulei quando ele atirou fogo, por pouco não me acertando. Continuei desviando, saindo de seu alcance até que tive uma ideia.
Guardei minha varinha no bolso da calça, corri em direção as costas de Forthern e comecei a escalá-lo. Ele virou a cabeça em minha direção e, com as mãos, tentou me atingir. Pulei para o lado, e sua mão passou raspando por mim. Foi tudo bem até chegar ao meio de suas costas. Desviei de ser esmagada pelas mãos dele, mas percebi que caíra em uma armadilha. Fui acertada pela outra mão. Forthern me jogou longe, e amorteci a batida com um campo de força. Não sei como sobrevivi ao impacto, mas desmoronei até o chão, o que não foi grande coisa, já que eu fora jogada a 5 metros do chão, mas doeu. Muito.
Ouvi meus amigos abafarem uma exclamação, e começaram a correr em minha direção, mas Forthern barrou a passagem. Comecei a me arrepender por ter aceitado o desafio dele, mas logo apaguei esse pensamento e tentei me levantar. Minhas costas doíam muito, e peguei minha varinha. Sussurrei rapidamente um feitiço, e a dor diminuiu. Depois de guarda-la, notei que ele me encarou, seus olhos penetrantes, e sustentei seu olhar. A intensidade quase me fez desviar, mas não deixei isso acontecer. Enquanto isso, eu pensava em um plano.
Um surgiu em minha mente, e embora pensando que fosse um pouco idiota, coloquei-o em prática.
Sua mão estava bem perto de mim, a dois metros. Eu queria pular em cima dela, e quase certeza de que ele a levantaria, fazendo com que ficássemos cara a cara.
Na maior velocidade que eu conseguia, corri até sua mão e saltei em cima. Isso pareceu surpreendê-lo, mas ele fez exatamente o que pensei que faria.
Forthern levantou a mão até ficar cara a cara comigo. Com cuidado, fiquei em pé e o encarei. Seus olhos cor de fogo ainda olhavam com grande intensidade, e vi meu reflexo neles. Meus olhos estavam ficando de um azul escuro, quase pretos. Surpresa, notei que não estava cansada, muito pelo contrário, me sentia disposta.
Devo admitir que você é persistente, Safíra. Mas quero ver seu poder. Mostre-me do que é capaz.
Franzi as sobrancelhas. Movi a mão até minha varinha, mas parei na metade do caminho. Lembrei-me de algo que minha avó me dissera: eu era muito forte, e a varinha aumentava meu poder, mas que sem ela teria quase tanto poder quanto, senão mais. Justamente por serem os mais difíceis, os feitiços feitos com as mãos eram os mais poderosos.
Sem aviso, Forthern lançou fogo em minha direção. Só houve um jeito de escapar: pulando em direção ao chão, o que seria o mesmo que pular de um prédio, ou seja, era suicídio. Mas era ou isso ou virar cinzas. O que eu fiz? Saltei. Ouvi meus amigos abafando exclamações e gritando, mas não me importei. Tinha que me concentrar em fazer uma coisa: não morrer.
Com as mãos, fiz aparecer uma prancha de skate sem rodas sob mim. Com ele, voei para o alto de novo. É, ele voa. Eu gostava de andar de skate, mas o voador era melhor. Muito mais divertido.
Comecei a girar em torno do dragão, dando ataques rápidos. Não pareciam fazer efeito nele, mas o deixaram irritado. Começou a disparar fogo para todo o lado, tentando me atingir. Com isso, ele começava a se cansar. Voei até ficar novamente cara a cara com ele. Cerrei as mãos em punho. Era a hora do golpe final.
°°°
Fechei os olhos e me concentrei. Reuni todo o meu poder, e o transferi para minhas mãos. Quando senti que estava pronta, abri os olhos. Notei assustada que Forthern lançava fogo sobre mim, mas que não me atingia, pois eu estava cercada por um campo de força.
Nesse momento, não sei como, o fogo do dragão se dividiu. Metade ainda tentava me atingir, mas a outra parte foi em direção a meus amigos. Percebi que eles não conseguiriam se defender, pois eu aprendera que o fogo de dragão era o mais poderoso de todos, até mesmo que o da quimera. Pensei em fazer um escudo para protegê-los, mas, se eu fizesse isso, o meu campo se desintegraria e eu seria atingida.
Eu tinha poucos segundos antes que o fogo acertasse Max, Sam e Jú. Hesitei, mas foi apenas por um instante. Meus amigos eram pessoas muito importantes para mim. Eu não deixaria que se machucassem. Dei uma última olhada nos três. Sam estava na frente dos dois, em posição defensiva, encarando o jato que se aproximava, suas próprias mãos envoltas de fogo. Jú estava atrás dele, mas olhava para mim, um olhar firme, que transmitia coragem, como se ela não fosse alvo de uma imensa bola flamejante. Max tinha os olhos fechados, e parecia recitar um feitiço.
Rapidamente, transferi meu campo de força para eles. Não vi suas expressões quando o jato de fogo não os atingiu, pois nesse momento o fogo me envolveu e tudo ficou escuro.
°°°
Acordei tonta, e a primeira coisa que notei foi que eu não virara cinzas. Sentei-me e olhei em volta. Meus amigos me olhavam, sentados ao meu redor e, em minha frente, Forthern me encarava com seus olhos penetrantes.
Vejo que acordou, feiticeira. Como se sente?
Só um pouco tonta, mas estou bem. Desculpe. Não consegui te derrotar. Vai poder continuar com suas garras.
Forthern me lançou o que parecia ser um sorriso.
Não, você conseguiu. Mostrou-se digna de leva-las.
Fiquei confusa.
Mas eu não consegui te derrotar, muito pelo contrário, você me derrotou.
Eu não disse que você precisava me derrotar. Falei que você devia provar que era digna, o que você fez ao escolher salvar a vida dos seus amigos à sua. Se não tivesse feito isso, dificilmente teria conseguido, pois mesmo uma feiticeira forte como você teria dificuldade em me derrotar.
Forte? Eu? Ele só podia estar brincando. Eu não era forte...era?
Como foi que sobrevivi a seu jato de fogo?
No último segundo, percebi o que você ia fazer e reduzi o poder do meu fogo de modo que ao ser atingida você apenas apagasse.
Você consegue fazer isso? Quero dizer, reduzir o poder de sua chama?
São poucas as coisas que não consigo fazer.
Sorri e olhei para meus amigos. Eles haviam ouvido nossa conversa e agora me olhavam, aliviados.
- Você está bem? – indagou Max.
- Aham.
-Sentimos muito por ter duvidado de você, Safí – desculpou-se Sam. – No fim, você nos salvou, e eu realmente não acho que teria conseguido conter aquele jato.
- Não se preocupe – lhe lancei um sorriso tranquilizador.
Ele sorriu de volta. Olhei para Jú e ela repetiu tudo o que Sam falou, mas com o olhar. Ela tinha que me ensinar a fazer aquilo.
Max me deu uma lambida carinhosa, o que eu sabia que valia mais que palavras, e ele queria dizer que estava feliz por eu estar viva.
Nos levantamos e caminhei em direção a Forthern.
É aqui que nos despedimos, Safíra, a voz dele ecoou. Leve minhas garras e use-as com sabedoria.
Você tem a minha palavra.
Em seu pé esquerdo duas garras sumiram magicamente, e elas surgiram em minha frente. Eu as peguei – elas pesavam mais do que parecia - e segurei-as com força, tendo em mente a preciosidade dos dois objetos que carregava naquele momento. Elas eram quase da minha altura, mas, apesar disso, não demonstrei desconforto.
- Canaro zaloi!
O pote com os ingredientes surgiu. Ele pareceu perceber o tamanho dos ingredientes que estavam prestes a entrar dentro dele e sua abertura se alargou. Coloquei as garras dentro dele e o fiz sumir.
- Zaloi canaro!
Forthern me olhava com aprovação, e um sorriso surgiu em meu rosto.
Nos despedimos e, quando saíamos, ele me disse, sem que os outros ouvissem:
Até o fim dessa busca, você ainda enfrentará duas grandes batalhas, e terá que pensar e fazer a coisa certa para vencê-las. As duas estarão de algum jeito interligadas, de modo que uma dependerá da outra para ser ganha ou não. As coisas vão sair um pouco do controle, e será seu dever consertá-las. Até algum dia, Safíra.
Assenti, um pouco confusa.
Até, Forthern, e saímos da caverna.
- Agora só faltam dois ingredientes: os 10 pêlos de nariz de duende e o chifre de minotauro – comentei.
- Mas, antes disso, temos outra coisa a fazer – lembrou Jú, sorrindo.
- Temos? – eu, Sam e Max indagamos ao mesmo tempo.
- Claro que sim! Está na hora de conhecer os arqueiros.
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Owwwn! A história ficou demais, e obrigada por falar do meu blog! *o*
ResponderExcluir^^ Obrigada, Lalah. Nadz, seu blog é demais *-*
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