sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Capítulo 28 = Reencontrando um velho amigo


Acordei com um movimento fora da caverna.  Silenciosamente, me levantei e olhei em volta. Sai da caverna e me escondi. Não tinha nada nem ninguém à vista. Mas meu instinto me dizia que eu estava sendo observada, e eu já aprendera a não ignorá-lo. Vi um movimento em uma moita perto de mim, e me aproximei.
- Quem está aí? – indaguei.
A moita ficou quieta, e quando peguei minha varinha, ela novamente se mexeu e uma coisa pulou dela, me dando um susto, e dei um passo para trás. Confusa, percebi que o que pulara da moita era uma capa. Agachei-me e, olhando mais de perto, notei que aquela capa era familiar.  Aquele tecido vermelho escuro, com o qual eu adorara brincar quando pequena, me trouxe lembranças. Quando lembrei porque ela era tão familiar, ouvi uma voz rouca atrás de mim, a voz que sempre me fazia sorrir.
- Como vai, pequena Safíra?
Virei-me e dei de cara com um homem alto e ruivo, de olhos verdes profundos. Um sorriso iluminou meu rosto, e corri para abraçar aquele homem que eu tanto gostava.
- Ryan! O que faz por aqui? – indaguei.               
- Estava procurando por uma espécie de coelho que vive aqui nessa região. Vou fazer Coelho Ralado.
Meus olhos brilharam ao ouvir esse nome.
Ryan era o mago forasteiro que me ensinara o bloqueio da mente. Mas eu demorara algum tempo para aprender, pois esse era um feitiço muito complicado, e por isso eu costumava ir encontrar com ele em uma caverna perto de casa quase todo o dia antes da escola. Eu convivi com ele por três anos, e nesse tempo ele me ensinara vários outros feitiços interessantes. Ele sempre tivera aquela capa avermelhada, e eu sempre gostara de brincar e passar a mão nela. Ryan era como um irmão mais velho para mim. Ele tinha vinte e oito anos, e eu não o via desde que se mudara dos Estados Unidos, quando eu tinha dez. Ele não tinha uma casa fixa, e vivia se mudando. O tempo que passara em Manhattan foi o maior que passou em algum lugar na vida, e ele só ficara lá por minha causa.
Coelho Ralado era um nome que ele dera para a carne de coelho cozida e cortada em vários pedacinhos. Ele adorava comê-la, assim como eu.
- E você, Safíra? O que faz aqui? Sabe que é perigoso sair por aí sozinha – ouvi o costumeiro tom de zombaria na voz dele, e sorri.
- Não sou mais aquela garotinha, Ryan.  Já sou bem mais forte e sei muitas outras coisas.
“Além de coisas que eu não sabia antes de começar a busca, mas agora eu sei”, e ao lembrar-me de Jú e Sam, senti uma dor no peito.
Ryan ergue as mãos, como se eu estivesse apontando uma arma para ele, e disse:
- Desculpe então, ó grande sábia!
Ri, e ele deu um meio sorriso. Ele sempre conseguia me fazer rir, mesmo quando eu estava triste.
- Você ainda não respondeu minha pergunta – ele lembrou. – O que faz por aqui?
Respirei fundo e lhe contei sobre a busca. Falei dos ingredientes que eu precisava, os que já tinha conseguido, as coisas que fizera e que descobrira, e falei de minha briga com meus amigos. Não pude evitar que algumas lágrimas escorressem, mas ele as enxugou e me abraçou.
- Dê uma chance a seus amigos. Eles podem saber o que são desde que te conheceram, mas você sabe o que você é desde que nasceu. Eles descobriram as duas coisas – que você é feiticeira e que eles são um mago-animal e uma arqueira - há pouco tempo. É muita informação para os dois. Precisam de um tempo para pensar, refletir sobre o que aconteceu. Seus amigos esconderam isso de você, mas você também escondeu o que era deles.
- Mas eu não escondi porque queria, escondi porque era necessário – falei.
- Eles também. E quando souberam que você era feiticeira, tenho certeza que queriam contar para você sobre o que eram. Mas pelo que você me disse, logo depois vocês já partiram em uma busca pelo mundo e não houve mais tempo.
- Jú e Sam fingiram estar impressionados com o que eles podiam fazer ao invés de me contarem que já sabiam.
- Isso só complicaria as coisas. Você estava nervosa por causa do que acontecera com Anna, e eles sabiam que você reagiria sem pensar. Decidiram esperar para te contar quando a busca terminasse, mas você descobriu antes, e reagiu exatamente da forma que eles esperavam.
- Mas também brigaram comigo!
- Safíra, tente também entender o lado deles da história, e não somente o seu. Está esquecendo que, assim como você, os dois também são adolescentes. Pelo que entendi, você zombou e gritou com eles e, apesar de quererem o contrário, reagiram impulsivamente, fazendo o mesmo. Vocês ainda vão aprender a controlar melhor suas emoções. É apenas uma fase.
Mordi o lábio, mas eu me sentia melhor. Meus amigos realmente me conheciam, e fizeram tudo que podia para evitar que desse em uma briga. Mas eu arruinara tudo, e esse pensamento desanimou.
Como se lesse minha mente, Ryan disse:
- Apesar de terem a mesma idade e estarem passando pelos mesmos momentos difíceis, para você é tudo ainda mais difícil, Safíra. Você é humana, mas também é feiticeira, e está na pior fase de dois seres diferentes ao mesmo tempo. Não é à toa que esteja fazendo tanta besteira. Eu me surpreendi por você não ter transformado seus amigos em mosca ou pior.
Apesar de triste, uma risada fraca saiu de meus lábios.
- Eu não chegaria a tanto – comentei.
- Acredite, poderia chegar.
Um ronco baixo de Max, vindo de dentro da caverna, chegou até nós, e Ryan comentou:
- Seu amigo é realmente dorminhoco.
- Pois é – e nós dois rimos, o que fez com que eu me sentisse melhor.
- Quer saber, Safíra? Acho que posso te ajudar.
- Sério? Como?
- Vou te ajudar com algumas técnicas e te ensinar alguns feitiços.
- Não tenho muito tempo.
- Não vai demorar.
Quando Max acordou, contei a ele sobre Ryan – ele ainda não sabia. Ele ficou vendo o mago me ensinar. Devo dizer que o aprendi bastante, mas também ri muito. No final da tarde, o bloqueio da mente estava fresco em minha memória e o feitiço de invisibilidade se tornara fácil, assim como os feitiços com as mãos e o controle de meus poderes.
À noite, comemos Coelho Ralado, e Max adorou.
No dia seguinte, Ryan me ajudou com o treino de luta sem magia e me ensinou o bloqueio de feitiços. À tarde, lembrando-me do que acontecera no Monte Everest, pedi para ele me ensinar um feitiço para correr mais rápido.
Depois desses dois dias, eu já me sentia preparada para enfrentar Morlogol, mesmo estando um pouco apreensiva. À noite, nos sentamos em volta de uma fogueira e, quando estávamos comendo novamente Coelho Ralado, agradeci a Ryan toda a ajuda que ele me dera.
- Não sei se algum dia poderei retribuir tudo o que já fez por mim.
- Você já retribuiu.
- Como?
- Conhecer você foi uma das melhores coisas que já fiz. Sinto-me novamente um adolescente quando estou junto de você. É como uma irmã mais nova que nunca tive. Pode me procurar sempre que precisar, pequena – ele estendeu a mão e bagunçou meu cabelo, me fazendo sorrir.
Ficamos conversando até tarde da noite, e acho que teria ficado a noite inteira se ele não dissesse que eu deveria dormir, para ter força para enfrentar Morlogol no dia seguinte. Eu me deitei e ele deitou-se ao meu lado, e, em questão de segundos, ouvi-o respirando profundamente. Se existia algo que me intrigava era a facilidade com que Ryan conseguia dormir. Acho que ele poderia dormir profundamente debaixo de uma chuva de meteoros.
Apesar do cansaço, demorei um pouco para adormecer. Estávamos quase na boca da caverna, e eu podia ver as estrelas. Ryan me ensinara tudo sobre elas, de modo eu nunca me perderia ser tivesse que me orientar por elas. Eu sabia o nome de cada estrela, assim como a localização de cada uma. Eu as achava incríveis.
Olhando para elas, tentei imaginar como seriam as coisas amanhã.
Será que estava preparada? Será que eu conseguiria derrotar Morlogol e roubar o chifre de minotauro? Eu teria força suficiente para isso? Ou realmente o mundo inteiro saberia sobre os feiticeiros? E quanto a Jú e Sam? Onde estavam? O que faziam? Como será que ficaria nossa amizade? Será que queriam conversar comigo assim como eu queria falar com eles? Será que sentiam minha falta assim como eu sentia a deles?
Mesmo apreensiva, consegui adormecer, pois algo me dizia que, no dia seguinte, todas as minhas perguntas seriam respondidas.
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Yoo ^^ Gostaram? Aproveitem, porque está quase no fim! Até a próxima! Bjs, Carol =]

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