Os dois correram em minha direção, e assumiram uma expressão preocupada ao ver meu estado. Deixando Morlogol de lado, Jú e Sam se ajoelharam em minha frente e me olharam, arfando.
- Precisa de ajuda? – Jú perguntou com um meio-sorriso.
- O que você acha? – eu ainda sorria, mas minha voz soou baixa e fraca, e eles só conseguiram ouvi-la bem por causa da audição aguçada que tinham.
- Sentimos muito, Safí – murmurou Sam. – Por tudo.
- Eu é que peço desculpas. Não devia ter discutido com vocês. Sabia que vocês não tinham escondido suas identidades de mim por mal. Fizeram como eu. Esconderam porque acharam que estavam fazendo a coisa certa. Eu é que fui muito boba e me deixei guiar pela raiva, exatamente como Max me preveniu antes e Ryan, depois.
- Nós também erramos, Safí. Não foi só você - Jú falou. – Ah é! Max só não está com a gente porque disse que ficaria de olho na porta, para dar o alarme caso algum monstro se aproxime.
- Não devíamos ter te deixado – completou Sam, e acrescentou, irritado - Quem é Ryan?
Notei que ele estava com ciúmes, e dei uma curta risada.
- É um mago forasteiro que me ensinou muita coisa há algum tempo atrás e que me ajudou a me preparar para esta luta.
Percebi que ele ainda estava um pouco enciumado, mas eu o abracei, e senti todos os meus músculos reclamarem. Isso pareceu acalmá-lo, e ele retribuiu o abraço.
- Nunca mais vou te deixar sozinha, Safí – a voz de Sam estava abafada. – Você tem a minha palavra.
Uma onda de felicidade me invadiu, e meu coração acelerou.
Então senti uma pontada em minhas costas, e gemi. Meu amigo se afastou, e me olhava apreensivo.
Vi pelo canto do olho que Jú estava perdida em pensamentos, e segurei sua mão. Ela piscou, e pareceu desorientada por meio segundo. Ela se voltou para mim e sorriu, um sorriso que eu não via em seu rosto fazia muito tempo.
- Senti tanto a sua falta, Safí – ela disse.
- Eu também, Jú – respondi.
Então seu sorriso sumiu, e ela assumiu uma expressão arrependida.
- Desculpe-me por ter sido tão chata e arrogante depois que saímos do Monte Everest – Jú sussurrou. – É que quando fui colocar minha roupa de arqueira, Connor me falou mais sobre meu passado, e sobre o jeito dos arqueiros. Eles são sérios, escondem suas emoções. Tentei agir como eles, mas notei que só te magoei, e ainda não me senti muito bem. Você sabe que não sou do tipo fechada – e com isso, ela riu, sua risada contagiante costumeira, fazendo Sam e eu rirmos também.
Nesse momento, notei algo que não percebera. Desde que saímos do Monte Everest, não parei para pensar no que Jú tinha feito com a capa que minha mãe lhe dera. Só agora, quando nós três ríamos, Morlogol desacordado logo atrás, e Max do lado de fora da sala, vigilante, foi que descobri o que ela fizera com o presente. Minha amiga a tinha colocado em baixo da sua capa de arqueira. As duas eram quase do mesmo tom, e apesar de serem feitas de materiais e finalidades diferentes, juntas pareciam uma só. Como Jú. Ela era uma arqueira, e sua vida agora estava dividida, assim como a minha e a de Sam. Mas eu já aprendera e eles também aprenderiam que, mesmo sendo duas vidas diferentes, a do mundo da magia e do mundo dos humanos, as duas eram uma só.
Tão pensativa, me inclinei um pouco, o que me fez reprimir um gemido. Eu me esquecera da dor por um tempo, mas agora eu a sentia novamente, só que mais forte. Não queria que meus amigos vissem os ferimentos dos dardos, e até agora não tinham visto, pois eu estava de frente para a porta, e os dois de frente para mim, de modo que não viam minhas costas. Mas Sam, sensível a emoções, percebeu minha dor, e foi até meu lado. Inclinou-se de modo a poder ver os ferimentos e ouvi um baixo rosnado vindo de seu peito.
- O que houve? – ele indagou, sua voz misturando raiva e preocupação.
- Uns monstros me acertaram – eu disse simplesmente, dando os ombros.
De repente, senti Morlogol se mexer atrás de mim. Ele estava acordando.
Eu tinha que curar meus ferimentos, senão não aguentaria até o final da batalha. Mas eu estava fraca, e soube que não conseguiria. Não sozinha.
Max, chamei, preciso de sua ajuda.
Em cinco segundos, ele estava do meu lado.
Percebendo minha intenção, Jú e Sam também se ofereceram. Agradeci e eles me deram um pouco de sua energia, o suficiente para me curar e me deixar mais forte. Não demorou muito e, assim que terminamos, Morlogol já estava de pé, também se recuperando. Ele chamou mais monstros, e logo estávamos cercados.
- Jú, Sam, Max, cuidem dos monstros – falei. – Eu cuido de Morlogol.
Os três assentiram, um pouco hesitantes, e pelo canto do olho vi que Jú começou a disparar flechas e Sam, bolas de fogo. Max corria e deixava os monstros cansados, depois voava e os acertava.
Então me voltei para o feiticeiro, que me encarava furioso. Ele não tinha gostado nem um pouco da intromissão de meus amigos em nossa luta.
Dei os ombros e disse:
- Você não disse que era uma luta apenas entre nós dois.
Seus olhos negros faiscaram, assim como os meus. Percebi que a parte do manto que cobria seu peito estava com uma grande mancha, que notei ser de sangue - misturando com a cor da capa - por causa do ferimento causado pela flecha de Jú – fora isso que o acertara.
Nesse momento, ele lançou um raio, ao qual eu desviei, e atirei outro de volta, e ele o bloqueou. Ficamos nisso por algum tempo, um tentando acertar o outro. Nenhum de nós dois conseguiu, e os monstros não paravam de chegar. Eu arfava, e notei que meu inimigo também. Nós dois estávamos nos cansando.
Não sei quanto tempo ficamos nisso, atirando e desviando. Meus olhos ardiam com o suor que escorria de minha testa, e meus braços estavam doendo. Eu estava tão concentrada em minha luta que ignorei a sensação de que algo ou alguém entrava na sala. De que algo atacava e se desviava dos monstros. De que algo se aproximava de mim.
Lancei um raio, e ele devolveu outro ao mesmo tempo. Dessa vez, meu raio azul não vacilou nenhuma vez, diferente do dele, que recuava cada vez mais. Eu me sentia mais forte, agora que meus amigos estavam comigo de novo, e minha energia só aumentava. Mesmo assim, era difícil fazer o raio dele recuar. Apesar de ele estar cansado, ainda era mais forte que eu, um feiticeiro completo de magia negra, e eu ainda era uma feiticeira adolescente em treinamento. Nesse momento, meio raio vacilou um pouco, o que interrompeu meus pensamentos. Com algum esforço, recuperei o tanto que tinha recuado, e até um pouco mais. Vi que Morlogol não estava nada satisfeito com o rumo que nossa batalha tomava, e senti que mais monstros entravam.
Com o canto do olho, vi um monstro cair com um raio de luz dourado. Isso me deixou um pouco confusa. Não sabia que Max agora lançava raios de luz. Jú e Sam estavam do outro lado da sala, por isso sabia que aquele raio não viera deles. Depois, Max lançou um raio-bumerangue, também dourado, e meu raio recuou um pouco por causa da surpresa. Desde quando Max lançava aquele tipo de ataque?!
Âmbar. Só podia ser ela. Ela tinha me prometido que não entraria na busca, e só me ajudaria quando eu precisasse, dando informações. Mas pelo jeito ela realmente queria me ajudar, a ponto de quebrar uma promessa. Não pude impedir que um sorriso aparecesse em meu rosto.
Nesse momento, parei de lançar meu raio e bloqueei o ataque de Morlogol. Então ele atirou mais três ataques consecutivos, e lancei outro em troca, o qual ele não conseguiu desviar. Esquivei-me do primeiro, parei o segundo e fui atingida pelo terceiro. Bati as costas na parede com força, o que me deixou sem ar. Levantei-me devagar e olhei para a direção de onde vinham os ataques de Âmbar. Max voava, derrubando vários monstros, e ao lado dele, minha amiga feiticeira lutava. Pelo menos foi o que pensei. Mas no momento em que minha cabeça parou de girar, pude ver com clareza. Não era Âmbar – me toquei que os raios dela eram laranja, e não dourados, por isso não poderia ser ela. Não era nem mesmo qualquer outra amiga minha. Pelo contrário. Era a última pessoa que eu esperava que viesse me ajudar. Senti meu queixo cair.
- Topázio?!
Ela se virou para mim e deu um sorriso zombeteiro ao notar o espanto em minha voz. Lançou um raio em outro monstro e se aproximou de mim. Reparei que ela já não andava e se vestia mais da maneira que costumava fazer na escola: como que dizendo Sou demais, só uso roupas caras e chiques, venha e me adore. Ela usava uma blusa de moletom vermelha puxada até os cotovelos, calça jeans e tênis. Suas mechas douradas brilhavam, e seus cabelos louros estavam bagunçados – não queria nem imaginar como estavam os meus. Ela ganhara alguns cortes no braço - tão pequenos que precisei me esforçar para vê-los - e seus olhos verdes tinham um brilho diferente.
Ela parou a alguns centímetros de mim e me encarou nos olhos.
- Está surpresa, não é? – ela indagou. – Admito que até eu estou. Nunca pensei que eu fosse estudar tanto quanto estudei o feitiço de teletransporte simplesmente para vir ajudar alguém que até a poucos dias eu detestava. É estranho como as pessoas mudam.
Franzi o cenho.
- Quem é você? – perguntei. – O que fez com aquela garota chata, irritante e mimada que eu tinha que aturar?
Ela deu os ombros.
- Falando a verdade, também não sei – então ela começou a imitar a voz de um repórter, segurando sua varinha como se fosse um microfone – Muitos estão à sua procura. Ela desapareceu de repente, sem deixar vestígios. Seu paradeiro é desconhecido.
Apesar de toda a tensão e suspense do momento, não consegui me conter, e ri. O sorriso de Topázio já não era mais zombeteiro.
- Seja bem-vinda, nova Topázio – falei.
- Obrigada, Safíra – ela respondeu. – E aí? Vamos ficar conversando ou vamos enfrentar Morlogol?
Dei um meio-sorriso.
- Acho que você já sabe a resposta.
- Paralisante e raios?
- Não vai funcionar por muito tempo, mas pode nos dar uma chance.
Então eu e Topázio cercamos Morlogol. Ele fuzilou-me com os olhos, e depois encarou minha ex-inimiga. Percebi na hora o que ele faria.
- Topázio, não olhe – e vendo que não daria certo, gritei outro conselho – Pense em coisas boas, que te deixem feliz. Assim ele não vai aguentar muito tempo. Não deixe essas sensações ruins te dominarem.
“Como ele fez comigo”, completei em pensamento. Novamente me veio à dúvida. O que tinha de tão especial naquele monstro em chamas que passou correndo que me deixou mais forte?
Talvez ele só tenha parecido familiar porque eu já lutara contra vários clones dele. Mas porque ao passar por mim ele me daria uma sensação boa? Não fazia sentido!
Um pouco irritada, olhei para minha companheira e vi que ela estava tentando resistir ao poder do olhar do feiticeiro. Não tinha como eu ajudar, a não ser que atacasse Morlogol. Mas eu não faria isso, pois eu o estaria atacando pelas costas, o que era covardia. Sabia que ele não pensaria duas vezes em fazer isso comigo, só que eu não era igual ele. Eu era melhor.
Virei-me para meus amigos, e vi que os monstros ainda continuavam chegando. Os três pareciam cansados, mas não paravam nem um segundo. Um monstro estava prestes a acertar Jú nos ombros, e como ele estava perto demais para ela conseguir atirar, minha amiga fez algo que me surpreendeu quase tanto quanto o aparecimento de Topázio: guardou a flecha na aljava e bateu com a ponta do arco na cabeça do monstro, fazendo o cambalear alguns metros para trás, direto para uma bola de fogo que Sam produzira. Assustou-me porque eu tinha aprendido que o arco era um instrumento muito especial para os arqueiros, e não podiam ser usados de qualquer jeito. Ela voltou o olhar para mim e disse com o olhar, dando os ombros: Situações desesperadoras requerem medidas desesperadoras. E não conte para Jane, porque ela me penduraria pelo pescoço do topo do Monte Everest se soubesse.
Não pude evitar um sorriso. Vi um movimento de relance, e virei-me para olhar o que era. Abafei uma exclamação. Era uma quimera. A criatura era igual a que tínhamos visto na Islândia, só que menor. Soltava fogo e rugia, matando vários monstros de uma vez. Fiquei confusa por cinco segundos, mas depois entendi o que ela estava fazendo ali. Era Sam.
Novamente, fiquei boquiaberta. Não sabia que ele já conseguia se transformar. Não pude deixar de pensar o quão incrível eram meus amigos, e o quão inferior eu parecia perto deles. Tinha quase certeza de que, se eles estivessem enfrentando Morlogol no meu lugar, já o teriam vencido.
Então me veio um pensamento. Talvez eles até conseguissem derrotar o feiticeiro, mas não estariam usando o mesmo recurso que uso: magia. Estariam usando habilidades físicas. Os dois eram incrivelmente rápidos, espertos e habilidosos – Jú com o arco e flecha, Sam com sua força e seu fogo. Eu tinha aprendido a pensar e agir rápido, e ainda tinha a meu favor toda minha magia - que modéstia a parte, não era pouca. Eu não era inferior. Era forte ao meu jeito, com minhas habilidades, com meus poderes. Não precisava ficar me comparando aos outros para saber se eu era boa ou não. Eu precisava confiar em mim mesma, em minha capacidade. Ser quem eu era, e pronto. Já bastava.
Respirei fundo e me virei para Topázio. Ela ganhava a batalha “em pensamento” contra Morlogol. Isso pareceu me incentivar, e no momento em que ele desviou o olhar, ataquei. Lancei um raio paralisante, e Topázio piscou desorientada por um segundo, atirando um raio logo depois. O feiticeiro bateu contra uma das paredes, e o raio paralisante perdeu o efeito. Fiz uma mão de energia o agarrar e o levantei. Ele se debateu, tentando livrar-se, e eu o lancei em direção ao outro canto da sala, o que derrubou diversos monstros. Minha ex-inimiga me olhou, espantada, e juntas corremos em direção ao nosso adversário. Atacamos ao mesmo tempo, sem dar a ele a opção de desviar. Vários monstros avançaram em nossa direção e, de costas uma para a outra, atiramos neles, os matando quase instantaneamente.
De repente, Morlogol nos pegou de surpresa, e acabamos ficando presa em uma bola negra de energia. Ela começou a sugar nossa força, e vi um sorriso vitorioso aparecer no rosto do inimigo. Troquei um olhar com Topázio, e juntas tentamos destruir a bola, sem sucesso. Não sei por quanto tempo tentamos sair de lá, mas eu já tinha perdido grande parte do meu entusiasmo inicial. Mas não a esperança.
Nesse momento, vi o feiticeiro desviar de uma flecha e ser atingido por outra quase ao mesmo tempo. Ele se dobrou, gemendo, e Max pulou em cima dele, derrubando-o, o que fez com que a bolha ficasse mais fraca, nos dando chance de tentar sair de novo. Liberamos nossa energia contra ela e, com a ajuda de uma bola de fogo de Sam, conseguimos nos livrar. Senti minha força voltando, e notei que Topázio também parecia melhor. Sorri e agradeci aos meus amigos, e quando quase todos os monstros pareciam destruídos, nos voltamos para Morlogol. Ele nos olhou friamente e atacou. Fiz um escudo de força nos envolver, e depois atacamos em conjunto. Eu com um raio azul, Topázio com um dourado, Sam com uma bola de fogo, Jú com suas flechas e Max com uma pedra do tamanho de uma mão fechada.
O feiticeiro foi jogado longe, caindo em seu trono, inconsciente.
Um grande sorriso cobriu meu rosto, e vi que ele estava refletido no de meus amigos também. Não conseguíamos acreditar que tínhamos derrotado um dos mais fortes feiticeiros de magia negra do Reino. Parecia inacreditável.
- Quem é você? – indagou Jú, virando-se para minha ex-inimiga.
- Meu nome é Topázio. Estudo com a Safíra na Magia High School.
- Muito prazer, Topázio – cumprimentou Jú, trocando um aperto de mão e sorrindo para ela. – Meu nome é Juliana. E esse é o Sam – ela apontou na direção dele. – Estudamos com a Safí na Goode High Schoool.
Topázio cumprimentou Sam e vice-versa. Sorri e olhei em volta.
- Um de vocês sabe onde está o chifre de minotauro?
- Ali – Sam apontou para o topo do trono negro.
Corremos até lá e tentei pegá-lo, mas não alcancei. Jú também tentou, mas apesar de ser um pouco mais alta que eu, também não conseguiu. Foi a vez de Topázio que, sendo mais baixa que eu, não teve sucesso. Max voou até o chifre, mas não teve força suficiente para arrancá-lo de trono. Por fim, Sam esticou o braço para pegar, e como era o mais alto de nós cinco, o alcançou. Segurou e puxou o chifre de minotauro com força. Devia estar muito bem preso, pois meu amigo teve que usar toda a sua força para tirá-lo de lá. Quando conseguiu, desequilibrou-se e caiu no chão.
Estendi a mão para ajuda-lo a se levantar, e ele aceitou sorrindo.
- Aqui – Sam me deu o chifre. – É seu.
- Não teria conseguido nem ele nem nenhum outro ingrediente sozinha. Então não é meu – retruquei. –É nosso.
O rosto de meus três amigos se iluminou. Topázio abaixou a cabeça, como que se sentindo mal, e eu a puxei para perto e a abracei. Percebi que eu a tinha pegado de surpresa, o que me deixou feliz.
- Sua ajuda também foi essencial, Topaz. Posso te chamar assim? – indaguei.
- Claro – ela sorriu. – Posso te chamar de Safí?
- Nem precisava perguntar.
Comemoramos nossa vitória e, começamos a andar em direção à porta. Topázio andava na frente, e parecia pensativa. Vi então de relance o trono negro de Morlogol, e meu coração pareceu parar. Arregalei os olhos, e meus amigos ao notarem minha expressão de espanto seguiram meu olhar. Abafaram um grito.
O trono estava vazio. Morlogol não estava mais lá. O que queria dizer que tinha acordado. Antes que pudéssemos nos mover, ouvi passos e um gemido. Rapidamente nos viramos, e soltei um grito baixo.
Morlogol estava na porta, e lançara um raio que teria nos matado se não fosse por Topázio. Ela mantinha com as mãos um escudo de energia em volta de nós, e sua expressão era concentrada. Corri para seu lado, e uni meu campo ao dela. Jú retirou o arco do ombro, pegou uma flecha na aljava e atacou. Sam lançou uma bola de fogo, e Max jogou um dos monstros caídos com o poder da mente em direção a Morlogol. Pude notar que o feiticeiro estava fraco, e que não aguentaria por muito tempo. Quando foi acertado pela flecha, fogo e monstro, seu raio cessou e ele desabou no chão. Trocamos um olhar e nos aproximamos dele, cautelosos. Ele podia estar blefando.
Felizmente não estava, e todos nos voltamos para Topázio. Ela corou, o que foi estranho, pois eu nunca vira aquela garota corar. Sempre vira aquela garota fazer os outros corarem.
- Ainda duvida de que sua ajuda foi essencial? – indaguei.
Ela deu um sorriso tímido mas feliz, e todos comemoramos, dessa vez oficialmente.
Olhei para Topázio. Ela ria de algo que Jú dissera, e não pude deixar de lembrar algo que minha avó havia me dito quando eu despedi dela.
A ajuda vem dos lugares mais inesperados. Novamente, ela estava certa.
°°°
Sam fez um buraco no chão e colocamos Morlogol lá dentro, para que quando acordasse demorasse algum tempo para voltar a fazer maldades. Depois andamos até a saída da caverna, matando todos os monstros que apareciam no caminho. Fazíamos como um jogo. Cada hora um de nós destruía um deles. Foi Sam que ganhou. Quando um dos monstros mais estranhos que já vi bloqueou nossa passagem, meu amigo deu um passo para frente e fez duas bolas de fogo aparecerem. Isso não pareceu assustar o adversário, então demos uma ajudinha.
- É melhor você não irritar esse garoto – Jú alertou o monstro.
- Ele vira uma fera quando o provocam – ajuntei.
- Literalmente – completou Topázio.
O monstro estreitou os olhos, desconfiado.
- Depois não diga que não avisamos – dissemos nós três juntas, e Max concordou.
Sam gritou e se transformou em uma quimera. Ele pulou em cima do monstro e o inimigo cambaleou e caiu, desintegrando-se quando Sam mordeu seu pescoço.
Depois foi a vez de Topázio, que matou um ser que parecia o cruzamento entre um urso e um cavalo. Por fim, os monstros acabaram, assim como nosso jogo. Qual é? Somos adolescentes, nunca perdemos uma chance de nos divertirmos.
No momento em que saímos da caverna, a luz da Lua nos cobriu. Estava uma noite estrelada, linda, como que comemorando nossa vitória junto conosco.
Estávamos todos acabados, e nos deitamos perto dali, sem nos preocupar em achar uma caverna. Afinal, Morlogol estava derrotado.
Olhei para as estrelas, e elas pareciam felizes por nosso sucesso na busca. Eu não conseguia acreditar que tínhamos conseguido. Admirando o céu com o olhar, um pensamento me atingiu.
Não. Não ganháramos ainda. Precisávamos juntar todos os ingredientes e espalhar a poção, para que ninguém se lembrasse da existência de feiticeiros. Se não fizéssemos a poção, todos os ingredientes seriam inúteis. Ainda não tinha terminado.
Lendo minha mente, Jú concordou.
- Já passamos por muita coisa, Safí. Ninguém teria conseguido fazer o que fizemos.
Assenti lentamente.
- É verdade – concordei.
Olhei para a Lua, e comecei a “viajar”, pensando em diversas coisas ao mesmo tempo – um costume que eu tinha. Depois do que pareceu muito tempo, a voz de minha amiga interrompeu meus pensamentos.
- Boa noite, Safí.
- Boa noite, Jú.
Fechei os olhos e lembrei-me de tudo o que havia acontecido desde que amanhecera. Um sorriso iluminou meu rosto.
Ninguém teria conseguido fazer o que fizemos.
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E aí, pessoas? Gostaram? Aproveitem, pois esse é o penúltimo capítulo. Está quase acabando, e espero que estejam curtindo 8) Dedico esse a minha amiga Tatah, que fez esse lindo desenho. Arigatou, amiga! ^^ Até a próxima! Bjs, Carol =]

muito legal!!!
ResponderExcluirBrigada ^^
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