terça-feira, 15 de março de 2011

Capítulo 3 = Um começo quase normal



Terminei de comer, peguei minha mochila e fui para a sala esperar por Ruby e minha mãe. Max já estava lá e, percebendo minha expressão preocupada, perguntou:
- O que houve, Safí?
- Bem...é que estou um pouco preocupada com o que minha mãe me falou sobre meus poderes. Não quero fazer nenhuma burrice que acabe nos entregando.
- Você só tem que tomar cuidado, Safí, para não deixar que suas emoções te dominem. Se você for cuidadosa, não irá acontecer nada. Mas não se preocupe, qualquer coisa, te dou um toque.
Senti-me um pouco mais tranquila. Max fica sempre dentro da minha mochila quando vou à escola. Mas não se preocupe, pois ninguém descobre. Se alguém abrir minha mochila, só vai ver livros e o meu estojo. Não vai perceber que tem um cachorrinho lá dentro. Como ele faz isso? Magia.
- Valeu mesmo, Max.
- Amigos são para isso, não são?
Então minha mãe e Ruby desceram, e entramos no carro. No caminho, minha mãe relembrou que eu devia tomar cuidado e blábláblá. Quando chegamos a Goode High School, Max entrou em minha mochila e desci, acompanhada por minha irmã. Ruby também estuda na Goode, mas está na 3° série e eu, na 7° série. Minha mãe nos beijou na testa e me disse, sorrindo:
- Juízo, hein?
- Pode deixar, mãe.
- Cuida bem dela, Max.
- Deixa comigo, Diamante! – a voz veio de dentro da minha mochila.
Ela entrou no carro e foi embora.
Ruby foi para junto das amigas e eu parei o meu armário para deixar os livros que eu não ia usar. Senti alguém se aproximando –uma habilidade que tenho- e ouvi uma voz atrás de mim:
- Bom dia, Safi.
Virei-me e dei de cara com meus dois melhores amigos: Juliana e Sam.
-Bom dia, Jú. Bom dia, Sam. E aí? Novidades?
- Você viu o jogo ontem? Yankees versus Red Sox – perguntou Sam.
- Não, não consegui ver. Quem ganhou?
- Yankees, é claro! Não ia dar mole para os Sox, né? – exclamou ele.
- Claro que não! – e bati na mão estendida dele.
- Como foi que você não viu, Safi? Foi a semifinal! O que você estava fazendo de tão importante que não conseguiu ver? – perguntou Juliana.
“Treinando um feitiço de invisibilidade”, eu queria responder. Mas não podia. Meus amigos não sabiam que eu era uma feiticeira e, por enquanto, não deveriam saber.
- Eu estava com minha avó – respondi, o que tecnicamente falando era verdade, porque era ela que estava me ensinando.
- Você não sabe o que perdeu. Foi um jogo incrível!
Sorri e fomos andando até a sala, com os dois me contando os detalhes do jogo. Quando chegamos à porta da sala, ouvi a voz que eu odiava ouvir:
- Olha só o que temos aqui! Eu não sabia que estávamos tendo um concurso de idiotas mal vestidos na escola. Essa seria a única coisa em que eu perderia de vocês, porque sou linda e visto roupas decentes!
Era Anna, a menina mais chata de face da Terra. Só não era pior do que Topázio, que era a versão mágica dela – uma feiticeira muito, muito irritante. Ela vivia implicando com Jú, Sam e eu. Não me pergunte por quê.
Reparei que nós três estávamos usando roupas normais e que ela é que estava cafona. Parecia ter se vestido para ir ao Carnaval, que ainda demoraria a acontecer. Ela estava usando uma calça jeans apertadíssima – eu me surpreendia que a circulação do sangue da perna dela ainda não tivesse parado - e uma blusa de lantejoulas rosa choque. Uma palavra a definia: ridícula. De repente tive uma ideia. Cruzei os braços e, disfarçadamente, apontei minha mão direita para ela. Vi Bill, um menino da minha classe, passar comendo um cachorro quente com, para a minha felicidade, muita mostarda e ketchup. Você já deve ter adivinhado o que eu ia fazer. Quando o garoto estava passando do lado de Anna, sussurrei o mais baixo possível:
- Mitchten!
Só para ver a cara que Anna fez quando o cachorro quente foi parar na blusa dela, deixando-a toda suja de ketchup e mostarda, eu pagaria uma boa grana. Senti Max estremecer em minha mochila.
- Seu idiota! – ela gritou para o pobre Bill, que não entendeu como seu cachorro quente, de repente, voou de suas mãos.
Enfiei a mão no bolso e estendi um dólar para ele.
- Pega, Bill. Assim vai poder comprar outro na cantina.
Ele pegou o dólar e disse:
- Obrigado, Safí - e saiu.
Olhei para Anna e disse:
- Podemos até estar cafonas, mas pelo menos não estamos parecendo um cachorro quente ambulante - e fomos nos sentar, rindo.
Deixei minha mochila no chão e nos sentamos cada um em cima de uma mesa – um costume que temos - e começamos a conversar.
- Nossa, foi muito azar o sanduíche do Bill cair justo na blusa dela – comentou Jú, rindo.
- É, mas foi bem merecido!  - concordou Sam.
- Com certeza!
Eu estava feliz que meu feitiço tivesse dado certo e aliviada que todos tenham acreditado que tudo foi pura coincidência. Nesse momento, a voz de Max soou em minha cabeça. “Sáfíra!”, chamou ele. Era um poder que ele tinha, mas que exigia muito dele. Então eu disse para meus amigos:
- Vou ao banheiro. Já volto!
E sai da sala com a minha mochila. Entrei no banheiro e suspirei aliviada quando percebi que estava vazio. Apoiei minha mochila na pia, abri o zíper e vi a carinha preocupada de Max.
- Safí, você não devia ter feito isso! Você sabe que os feitiços com as mãos são mais difíceis. Poderia ter feito alguma bobagem!
- Mas não fiz! Sinto muito, Max, mas ela bem que mereceu. Da próxima vez, tento me controlar. Todos pensaram que foi um acidente, então está tudo bem!
- Mas não foi! Você e eu sabemos disso. Tente controlar-se.
- Tá bom! Pode deixar, Max - e ouvi o sinal tocar. – Agora vamos que já vai começar a aula.
Fechei o zíper, peguei minha mochila e sai correndo. Entrei na sala e vi que a sra. Marshall já tinha chegado. Ela é minha professora de história. Quando cheguei, ela tirou os olhos da lousa e olhos para mim, e vi uma expressão de interrogação em seu rosto.
- Desculpe pelo atraso, sra. Marshall – eu disse, recuperando o fôlego perdido na corrida.
- Não se preocupe, querida. Acabei de chegar. Está tudo bem? –me perguntou.
- Está sim – respondi.
- Ótimo. Então, sente-se. Eu estava explicando sobre a Revolução Francesa...
Fui para meu lugar e me sentei. Ela explicou sobre a situação da França no século XVIII, a Queda da Bastilha e quem eram os iluministas. Tocou o sinal e a sra. Marshall foi embora e ficamos esperamos a sra. Williams chegar. Nesse meio tempo, Jú se aproximou de mim e comentou:
- Ai, que bom que acabou! Viajei a aula inteira!
- Eu quase dormi! – disse Sam, se aproximando. - Não aguentava mais ouvir a ela falando sobre girondinos e jacobinos!
- Eu não. Achei a aula interessante, principalmente a parte da guilhotina! – falei. Eu gostava de história. Preferia a história da magia, mas a história normal também me interessava. A verdade é que estávamos fazendo uma revisão de tudo o que já víramos desde a 5° série, para terminar o ano, e sempre gostei dessa matéria.
- É...tão interessante que eu quase pude ouvir os roncos da turma inteira! – zombou Sam, irônico.
- Safí, às vezes eu achou que você não é normal! – comentou Jú.
“E você nem imagina o quanto tem razão!”, pensei.
- Alguém pode me explicar por que temos que aprender sobre uma coisa que aconteceu há três séculos?! –perguntou Sam, revoltado.
Nisso, a sra. Williams, professora de Português, chegou e nos explicou sobre paráfrase e citação, também revisão. Depois dela tivemos aula de matemática, onde o sr. Taylor falou sobre equações de segundo grau. E finalmente tocou o sinal, indicando que era hora do recreio. Levantei e nós três fomos para o pátio.
Eu não estava tão feliz quanto normalmente ficaria na hora do recreio, porque eu tinha o péssimo pressentimento de que algo muito, muito ruim aconteceria. Algo que faria minha vida mudar para sempre.

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E aí? Gostaram? Bem grande esse capítulo, né? Aproveitem, pois semana que vem posto o próximo! Não percam! Bjs, Carol 8-D

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