Ao chegar à vila dos duendes, a primeira coisa que eu notei foi que o movimento de cidadãos andando de um lugar ao outro era grande. Vários duendes caminhavam pela vila, entrando e saindo de lojas. Muitos paravam nos cantos das ruas para conversar, e o falatório era bem alto. Ninguém estranhou nossa presença, pois já estavam acostumados a ter visitantes em suas vilas.
Fiquei pensando na melhor maneira de conseguir o ingrediente de que precisávamos. Imagine se você um dia andasse pela cidade e, de repente, alguém te parasse e perguntasse se você poderia fazer a gentileza de lhe dar 10 fios de cabelo do seu nariz. Seria estranho. Muito estranho.
Felizmente, Max conhecia vários deles, e logo começou a conversar com três duendes. Falaram sobre algumas coisas alheias, mas depois conversaram sobre o ingrediente. Um deles olhou para Max como se ele fosse maluco, outro saiu correndo e o terceiro assentiu, pensativo. O nome dele era Luvk.
O duende nos levou para um bar, onde pagou-nos uma bebida, que tinha um tom cinza. Era doce e lembrava vagamente suco de groselha. Luvk nos fez várias perguntas sobre a busca, as quais respondemos com sinceridade – Max dissera que ele era confiável. Depois de um tempo, ele cedeu, e fiz aparecer uma pinça, que ele usou para arrancar 10 pêlos de seu nariz. Não posso dizer que foi uma visão agradável.
Quando ele estendeu a mão para me devolver, dei um sorriso amarelo:
- Não, pode ficar. É um presente.
Ele agradeceu, sorrindo, e depois de guardar o ingrediente, resolvemos dar um tempo. Fomos a várias lojas, e conheci vários cidadãos. Fiquei impressionada com a quantidade de duendes que Max conhecia. Quando eu o perguntei, ele me disse que sempre conversava com eles por ligações. Indaguei por que eu nunca o vira falando com eles antes, e ele respondeu:
- Converso com eles no sótão enquanto você fica conversando com Âmbar no seu quarto.
- Por que conversa com duendes?
- Eles são engraçados. – e deu os ombros.
Depois nós nos separamos. Sam e Jú ficaram conversando com um duende, e eu e Max fomos ver uma loja de roupas tradicionais. Sempre achei fofos aqueles ternos verdes que os antigos duendes costumavam usar.
Depois disso, nós dois passeamos um pouco pela vila, até que um movimento em um bosque mais afastado me chamou a atenção. Juntos, nós seguimos até lá, e ao andar um pouco, cheguei a uma clareira. Nos escondemos atrás de uma árvore para não sermos vistos, e a cena que se seguia em minha frente me assustou. O que eu vi? Jú e Sam treinando. Isso não parece lá grande coisa, mas não foi o fato de estarem treinando que me espantou, e sim o grau do treinamento. Parecia que treinavam há anos.
Sam canalizava grandes bolas de fogo e as atirava em inimigos invisíveis, parando os jatos antes que chegassem às árvores. Jú deixara a aljava no chão e atirava flechas em vários alvos espalhados pela clareira com uma agilidade impressionante, como se fizesse aquilo a vida inteira.
Por algum tempo, tanto eu quanto Max ficamos aturdidos demais para fazer qualquer coisa além de olhar. Então me recuperei e entrei na clareira sorrindo, Max me seguindo.
- Caramba! Em tão pouco tempo, vocês já avançaram mais do que qualquer um imaginaria! São realmente impressionantes! Eu não conseguiria aperfeiçoar uma técnica assim tão rápido...
Uma sensação de inferioridade se apoderou de mim naquele momento. Como eles conseguiam fazer isso?! Eu demoro muito mais tempo do que isso para aprender algum feitiço. Esforçava-me tanto para ser boa, mais ainda assim eles conseguiam ser muito melhores que eu... Não parecia justo.
Ergui o olhar e vi que os dois se entreolhavam. Pareciam estar tentando decidir alguma coisa, e uma grande desconfiança me atingiu. Apesar disso, mantive o sorriso inicial, e ninguém que me visse poderia imaginar a confusão de sentimentos dentro de mim.
Os dois ergueram o olhar e me olharam nos olhos. Jú mordeu o lábio inferior e Sam desviou o olhar.
- O que aconteceu? – indaguei, a testa franzida. – O que estão escondendo?
De propósito, repeti a mesma frase que Jú dissera no dia em que haviam descoberto minha identidade. Notei que eles perceberam, e pareceram culpados.
Esperei um dos dois falarem, e ao perceber que Jú não diria nada, Sam voltou os olhos para os meus e confessou:
- Safí, nós avançamos muito sim, mas não foi tão rápido. Já treinamos há algum tempo...
Não respondi, tentando entender o que ele queria dizer.
Sam prosseguiu:
- Descobrimos o que somos um pouco depois de te conhecermos. Comigo aconteceu primeiro. Percebi que podia lançar fogo depois de um tempo, e Jú me ajudou a descobrir meus poderes. Eu sabia que podia me transformar em quimera, mas não sabia como ou por que, e nem fazia ideia do que eu poderia ser. Eu treinava todo o dia, tentando aperfeiçoar minha técnica, mas era bem complicado. Um pouco antes de você transformar Anna em sapo, eu já conseguia fazer bolas de fogo do tamanho de bolas de basquete.
- Então você fingia não saber usar o fogo, não é? – deduzi, a voz fria. – Porque quando eu via você treinando com Max, você parecia só saber fazer bolas do tamanho de uma de tênis.
Percebi que fiz com que ele se sentisse mal, e lá no fundo senti uma dor aguda, mas a ignorei. Ele mentira não apenas para mim, mas também para Max, que o treinara pensando que era um novato. Isso fez a raiva crescer dentro de mim.
- Por que fez isso? – sussurrei. – Por que não nos disse que já sabia lançar bolas de fogo? Pelo menos assim pouparia Max de ter o trabalho inútil de te treinar.
- Mas ajudou bastante o treinamento que ele me deu! – ele se defendeu. – Consegui evoluir muito!
- Então não foi tão inútil assim! – meu tom era de zombaria.
Quando terminei de falar, o que vi me machucou profundamente. Uma expressão de profunda mágoa tomou conta dos olhos de Sam por um instante, mas logo desapareceu, e eles se tornaram impassíveis.
Olhei de relance para Max, ao meu lado, mas seu rosto estava tão impassível quanto o de Sam.
Virei-me para Jú.
- E você?
Ela me olhou friamente, mas depois respondeu:
- Depois que Sam começou a treinar, também descobri meus “poderes”. Percebi que podia ler a mente das pessoas e correr como o Flash. Quanto a habilidade com arco e flecha...eu só descobri depois de algum tempo, e deduzi que era uma arqueira, mas não tinha certeza. Só mesmo com no QG que descobri mais sobre mim.
Ela parou de falar e desviou o olhar para as árvores.
- Resumindo, vocês dois mentiram e nos enganaram o tempo todo. Estão até parecendo...
- ...você. – completou Jú.
Mordi o lábio.
- Como puderam fazer isso? - falei.
- Você não pode falar nada! Escondeu que era uma feiticeira o tempo inteiro! - Sam retrucou.
- E nem se preocupou em nos contar! - ajuntou Jú.
- Mas depois eu contei! - eu disse.
- Só porque viu que nós íamos descobrir! Amigos não escondem segredos, Safíra! - Jú murmurou.
- Como se você tivesse muita moral para dizer isso, Juliana – retruquei, furiosa. - Amigos não têm segredos, né? Mas vocês dois esconderam um de mim o tempo inteiro!
- E você não? - Sam perguntou, a voz fria. - E você não escondeu nada de nós, Safíra? Você nunca cumpriu o combinado que tínhamos feito sobre não ter segredos!
- Nem vocês!
- Safí, Jú, Sam, acalmem-se! – ouvi Max falar. – Vocês não precisam brigar! Os três erraram, e ainda cometeram o mesmo erro, o que facilita que entendam um o que o outro sentiu. São grandes amigos, admiro muito a amizade de vocês. Todos os amigos brigam, é normal. Mas o mais importante é o perdão.
Nenhum de nós respondeu, todos ficamos nos encarando, pensando no que Max dissera. Ele estava certo, mas me dei conta de uma coisa.
- Já que não cumprimos o que combinamos desde o começo como nossa regra de amizade, ou seja, não ter segredos, acho que é porque não somos amigos!
Fiquei esperando que eles não concordassem, mas me decepcionei. Vi que Jú secou as lágrimas e me lançou um olhar. Percebi um brilho que não reconheci e ela disse, com uma firmeza de qual eu nunca tinha ouvido:
- Também acho!
Achei que meu coração fosse se despedaçar.
Olhei para Sam e vi que ele tinha os punhos cerrados, suas mãos envoltas por uma bola de fogo. Quando ele me olhou, percebi que ele também tinha um brilho diferente nos olhos.
- Concordo!
Ele só disse isso, mas foi o suficiente para acabar comigo. Esperava que ele não concordasse. Mas continuei firme e forte, apesar de também derrubar lágrimas.
- Então tá! - eu disse.
Virei-me e sai da floresta, Max atrás de mim, cabisbaixo. Jú e Sam também foram embora, mas para o outro lado. Nesse momento, me dei conta de que eu já vira aquela cena antes. Não exatamente aquela, mas uma bem parecida. Eu sonhara com ela no dia em que encontrara a biblioteca.
Droga. Meu pesadelo virara realidade.
Assim que sai da clareira, me escondi atrás de uma árvore e escorreguei até o chão. Recolhi as pernas até o peito e as abracei, repousando o queixo sobre os joelhos. Max se deitou ao meu lado e ficamos quietos por um tempo. Lágrimas rolavam pelo meu rosto, mas não movi as mãos para enxugá-las.
- E agora? – Max indagou, quebrando o silêncio.
Demorei para responder.
Repassei a briga em minha mente, lembrando-me de cada movimento, cada palavra. Cada olhar.
Não conseguia acreditar que realmente tivéramos aquela briga. Achei que fôssemos amigos! Mas, infelizmente, parecia que não éramos.
Minha mente vagou, vários pensamentos e lembranças tomando forma. Desde quando eu entrara na Goode, de como ficara quieta no meu canto no começo do primeiro dia. De como ficava rabiscando na borda do caderno, até que uma garota de pele escura e um sorriso no rosto se aproximou e perguntou se eu era nova. De como fiquei feliz quando fomos juntas para o intervalo e ficamos vendo os meninos da nossa sala jogarem basquete. De como fomos dar parabéns a um garoto de cabelos castanhos e começamos a conversar sobre coisas que gostamos. De como me senti acolhida quando nos falávamos e ficávamos juntos no intervalo. E de como me senti parte do grupo quando fomos à pizzaria, eu e eles, e fizemos um pacto de que seríamos sempre amigos e que não teríamos nenhum segredo entre nós.
Lembranças não paravam de invadir minha mente, e continuei revivendo muitos momentos que tivera com Jú e Sam, até que tomei minha decisão.
- Agora – falei, respondendo a pergunta que Max me fizera - vou terminar a busca - limpei as lágrimas e me levantei. - Vou para a caverna de Morlogol conseguir o chifre de minotauro. Se eles não vão me ajudar, não tem problema. Vou sozinha.
- Não. Eu estou junto com você.
Voltei-me para ele, e me ajoelhei para abraçá-lo, sorrindo.
- Obrigada, Max!
Ele me lambeu e juntos saímos do bosque. Peguei minha varinha e nos teletransportei para uma montanha perto da caverna. Lá, descansamos.
Fechei os olhos para dormir, e novamente as lembranças me invadiram. Já era tarde da noite quando consegui adormecer, e lá no fundo um pensamento surgiu.
Será que os Jú e Sam estão pensando em mim assim como estou pensando neles?
Não sei como, mas algo me dizia que sim.
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Não sei como, mas algo me dizia que sim.
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Aqui está! Aproveitem. Até a próxima!! Bjs, Carol :3

êeee laiê, to sentindo q tá chegando o final, e a curiosidade aumenta ainda mais! o blog ta muito legal, cacá! bjs
ResponderExcluirTá mesmo no fim, leo kkkkk
ResponderExcluirbrigada ^^
bjs